Há trinta anos, em 1990, algo especial aconteceu dentro do Heavy Metal. Para muitos, o melhor disco já criado no estilo; para outros, talvez não o seja, mas mesmo estes não ficam alheios ao fenômeno que foi batizado como “Painkiller”!
É claro que estamos falando de Judas Priest, a mais icônica banda do estilo. Deveria, portanto, haver surpresa em alguma obra de seu catálogo? Bem…. sim! Na década que precedeu “Painkiller”, o grupo inglês entregou seis álbuns: três grandes clássicos representados por “British Steel”, “Screaming for Vengeance” e “Defenders of the Faith”, de um lado; do outro, três discos que são bons, mas que dividem opiniões, como “Point of Entry”, “Turbo” e “Ram It Down”. Esses dois últimos são o mote para entendermos o impacto do clássico que abriu a nova década. Principalmente “Turbo”, que apostava em mudanças visuais e de produção que geraram muita polêmica entre os fãs.
Seja qual for o parâmetro, “Turbo” passou longe de ser uma unanimidade e, em reação, o disco seguinte veio procurando resgatar a sonoridade típica da banda. “Ram It Down” é um ótimo álbum, tem boas músicas, mas de modo geral soa como se o Judas estivesse fazendo um esforço consciente para recuperar algo perdido. Faltava naturalidade em suas composições.
A sensação, então, era que um patamar de estagnação havia sido atingido e que poderíamos esperar, de agora em diante, que a banda se mantivesse naquele estágio.
Não foi o que aconteceu. Se “Painkiller” fosse embalado com uma capa similar à de “Vulgar Display of Power”, do Pantera, seria mais condizente com o impacto que causou em sua primeira audição. Pessoalmente, quando o peguei para escutar na loja, esperava mais um bom disco. Um trabalho que empolgaria, sem necessariamente precisar lhe arrebatar. Nunca poderia imaginar o que viria pela frente. A loja estava cheia de gente, amigos meus conversando, mas quando “Painkiller” começou, nos fones de ouvido, eu me perdi completamente de qualquer acontecimento ao redor. O que era aquilo? O que era aquilo????
De bandas veteranas, esperamos discos com um certo grau de excelência, sendo que raramente iremos encontrar algo que exale tanta fúria, tanto impacto. O Judas Priest já completava dezesseis anos e onze discos desde sua estreia fonográfica. Eles já eram “o Judas Priest”! Já eram clássicos, já eram lendários, já eram influentes. Não precisavam mais provar nada. Um certo nível de acomodação, portanto, chega a ser aceitável, principalmente para quem já fez tanto na carreira, mas “Painkiller” surgiu para bater de frente, e até sobrepujar, muitos trabalhos de gerações mais novas.
Esse resultado não seria alcançado se não tivesse havido alguns ajustes na formação, mais precisamente no posto de baterista. Dave Holland era um grande músico e fez um trabalho de destaque no “British Steel”, mas depois disso foi ficando mais e mais previsível e burocrático. “Painkiller” não teria sido o que foi se Scott Travis, egresso do Racer X, e que dá início ao álbum com uma virada de bateria que já nasceu clássica, reconhecível aos primeiros segundos, não chegasse para complementar a formação. E o mais incrível no disco é que o fôlego que ele tem no começo não arrefece em nenhum momento! Depois de “Painkiller”, vem “Hell Patrol”, “All Guns Blazing” e uma sequência de músicas tão fortes e marcantes que, mesmo em “A Touch of Evil”, um pouco mais melódica, graças em parte aos teclados do convidado especial Don Airey, o álbum não sofre perda de intensidade. Grande parte desse resultado merece também ser creditado ao produtor Chris Tsangarides, que já trazia em seu currículo trabalhos realizados com Anvil, Thin Lizzy, Tygers of Pan Tang, mas que estabeleceu aqui a sua referência definitiva como profissional do estúdio.
“Painkiller”, o disco, foi um ponto tão marcante na carreira do Judas que até hoje ainda é usado como parâmetro de comparação para o que veio depois. Infelizmente, como Rob Halford deixou a banda após a turnê, nunca poderemos saber como teria soado a sua sequência natural, mas nem precisa. “Painkiller” não envelheceu um dia sequer. Soa tão pesado, rápido e agressivo hoje como soou lá em 1990. E, pelo visto, manterá esse status por muito tempo.
Fonte: Roadie-metal.com
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