Eis que quando mal se iniciou o ano de 2019, já nos deparamos com um novo registro de um dos mais importantes nomes do Death Metal mundial. Estou falando do grandioso “Malê”. Não é assim que os fãs mais antigos costumam chamar? Um apelido carinhoso para uma banda rotulada como “O Mike Tyson do Death Metal“ devido às substituições constantes de integrantes e que mesmo com tais mudanças não costumam decepcionar seus adeptos em nenhum momento. Será mesmo? A seguir descreverei sobre o novo pergaminho que os estadunidenses de Fort Lauderdale, Florida, acabam de apresentar. Lembrando que inicialmente a banda era da cidade de Buffalo, Nova York.
“The 13th Beast” é o 13° álbum de estúdio do Malevolent Creation lançado dia 18 de janeiro via Century Media Records e que conta com um novo time para seguir com seu arsenal de riffs e vocais malevolentes mundo afora. Obviamente, “The Ten Commandments” é tido pela grande maioria dos fãs do estilo e da banda como o clássico absoluto dos caras e é obrigatório para o aprendizado sobre o que é Death Metal de verdade.
Para a formação que foi renovada em 2017, o líder e guitarrista Phil Fasciana convocou para o posto de vocalista e guitarrista Lee Wollenschlaeger (Imperial Empire, Throne Of Nails, ex-DieVersion, ex-City Under Siege), o baixista Josh Gibbs (Swamp Gas, Thrash Or Die, ex-Solstice) e para o comando das baquetas Philip Cancilla (Bits Of Gore, Primitive Brutality, Hank Williams III (Live), Intimidation, Nocturnal Wind, Tristram, ex-Disfiguring The Goddess, ex-Narcotic Wasteland, ex-Zorakarer, ex-Misericordiam, ex-I, Enclave). Mais uma banda que muda praticamente toda a sua composição e que novamente tem de mostrar o seu valor diante de um público bastante exigente e criterioso.
O teatro de horrores abre as cortinas infernais para “End The Torture” com um breve início narrado seguido por um belo riff característico do Metal extremo, onde a partir daí a “sonzeira” descamba para um massacre com pausas e viradas sem massagem. Wollenschlaeger encaixa seu vocal cavernoso de forma esplêndida ditando o tom da horda que destila seus versos sobre um assassinato envolto de muita tortura implorado para que se acabe o quanto antes. O incêndio nos alto falantes fica ainda maior somado ao solo de baixo de Gibbs e mais próximo do fim temos um solo agonizante do guitarrista convidado Ryan Taylor (Atomik, Combat, Condition Critical e Solstice). Na sequência o terror bestial da Flórida continua sua sangria em “Mandatory Butchery” que se mostra ainda mais insana e macabra. “Eu estrangulo sua garganta com minhas mãos encharcadas de sangue / Eu só tenho um pensamento que é que você morra” – um assassino em potencial detalhando seu crime e seus motivos para tal ato. Fasciana amplia esses detalhes com solos viscerais.
A besta toma forma em “Agony For The Chosen” com muita habilidade de Fasciana e Wollenschlaeger. Em “Canvas Of Flesh” que possui mais um belo solo de Taylor. E em “Born Of Pain” sob o comando da cozinha bastante entrosada de Gibbs e Cancilla. O corte a sangue frio se prolifera em “The Beast Awakened” com um início que convida a todos para aquele mosh tradicional e em seguida para uma sessão de headbanging sem motivos para reclamar da não-vida. “Sinta minha raiva, abasteça a máquina / Isso controla esta vida / Alimente minha raiva / Dê à luz os caminhos da carne” – onde os demônios estão libertos e não há clemência em se tratando do bom, velho e revigorado “Malê”.
“Decimated” cede as cartas para a jogatina assassina dar continuidade a todo o processo bestial recheado de blast beats para a narração de um espancamento enfeitado por um amordaçamento antes de enterrar a vítima amarrada e ainda com vida. Com um videoclipe condizente com o conteúdo mostrando um serial killer com uma mente totalmente perturbada e podre torturando sua vítima e melhor do que muito filme do tipo, o som fica ainda mais destruidor e sangrento. O solo dizimador fica a cargo de Wollenschlaeger. Outra levada sangrenta entra em cena sob a nomenclatura de “Bleed Us Free”. Nela podemos notar mudanças de andamento e uma linha mais técnica, e ao mesmo tempo voltada para os primórdios do estilo apoiada nos versos sobre ritos de sangue. “Seu ritual é escrito em pedra / Coberto com sangue endurecido”.
Entregando uma faixa com partes que lembram um veículo em chamas fritando os pneus em curvas fechadas, o quarteto mostra toda sua fúria em “Knife At Hand”, esta que também possui andamentos mais mórbidos em determinados trechos. O solo após o primeiro refrão é como uma faca amolada em mãos!
No rodapé do disco ainda temos duas canções capazes de fazer os glóbulos vermelhos jorrarem de emoção. “Trapped Inside” dá continuidade aos contos da besta sedenta por carne e sangue envolvida por vários assassinatos cruéis e com requintes de puro sofrimento e imploração para a morte certa. Enquanto “Release The Soul” que também recebeu um ótimo videoclipe fecha as cortinas do teatro com horror, ou seria louvor mesmo? O fato é que essa música caminha em passos lentos antes de descer ladeira abaixo na contramão dos modismos mundanos. E assim os contos da morte terminam com esta que para mim possui a melhor letra do disco. Aqui vai o trecho final: “Eu continuo tocando seus restos sangrentos / Um cadáver duro e frio que você se tornará, meu”. O termo meu é no sentido de possuir o cadáver mesmo.
Observando as estrofes e analisando os trechos destacados pode-se ter a impressão de se tratar de uma mesma música por lidar praticamente com mesmo tema, embora também a percepção possa ir mais adiante colocando em primeiro plano as várias personalidades maléficas que passam a dominar um mesmo ser de mente amplamente perturbada que perde o total controle de si. Bem que o Malevolent poderia se aprofundar nesse assunto com mais seriedade buscando mais conhecimento sobre algo que dificilmente é explicado e exemplificado de melhor maneira. Mas, mesmo assim não tiveram um resultado ruim.
Solte sua alma e aprecie sem moderação o som da carne vocalizada dilacerada por lâminas de cordas afiadas, respingando bumbos e tons por toda a extensão de seu aparelho de som. Ao contrário da morte, o Malevolent Creation está mais vivo do que nunca!
Este álbum é dedicado em memória de Brett Hoffmann.