quinta-feira, 8 de setembro de 2022

RESENHA: BLIND GUARDIAN – “THE GOD MACHINE” (2022)



Algumas bandas começam tão bem suas trajetórias e, neste período inicial, lançam discos tão notáveis que qualquer queda de qualidade ou mudança na musicalidade, causa enorme estranhesa em sua base de fãs. O Blind Guardian é um desses fenômenos, mas ainda foi além. Pode-se afirmar sem qualquer medo de errar que até “Nightfall In Middle-Earth”, sexto disco de estúdio dos alemães lançado em 1998, a discografia da banda beirou a perfeição. Fugindo daquele Power Metal mais melódico e clichê que infestou a cena mundial na década de 90 e ainda reverberou no começo dos anos 2000, o glorioso Blind Guardian era um exemplo de originalidade a ser seguido. Com um estilo mais visceral e agressivo que a grande maioria das bandas do estilo, os vocais rasgados do vocalista Hansi Kursh aliados aos solos belíssimos de Andre Olbrich e a porradaria proporcionada pelo baterista Thomen Stauch, os bardos germânicos conquistaram uma legião de fãs apaixonados e chegaram com louvor ao primeiro escalão do Metal mundial.

Mas como nem tudo são flores, o grupo resolveu se aprofundar e apostar em sonoridades mais amenas, Hansi precisou mudar o seu estilo de cantar e Thomen abandonou o barco em 2005 depois da turnê do divisor de opiniões, “A Night At The Opera”. Mesmo mantendo a qualidade habitual em suas performances ao vivo, o Blind lançou álbuns que não se comparavam aos seus grandes momentos. É claro que os músicos continuaram obtendo êxito comercial e estes discos tiveram muito mérito ao conquistar uma nova safra de fãs que abraçaram esta nova fase. Talvez por isso, seguiram nessa linha desde então. Mas a verdade é que se os fãs mais novos adoraram os registros pós “Nightfall”, os admiradores mais antigos se desinteressaram completamente pelo trabalho do grupo e, após mais de 20 anos, nem acreditavam mais que o velho Blind Guardian poderia ressurgir das cinzas com um álbum que ao menos fizesse menção a clássicos como “Follow The Blind”, “Tales From The Twilight World”, “Somewhere Far Beyond” e “Imaginations From The Other Side”.

Pois no último dia 2 de setembro, data de lançamento de “The God Machine”, o novo trabalho de estúdio, a banda finalmente resolveu agradar a gregos e troianos e lançou um disco que soa quase como uma continuação das grandes obras lançadas na saudosa década de 90. Sim, meus amigos, o que parecia impossível aconteceu e o Blind Guardian lançou um álbum de inéditas realmente memorável este ano. E é sobre ele que vamos falar agora.

Pode-se dizer que os bardos do Metal alemão são diferenciados até mesmo na forma como escolhem a estratégia de lançamento de seus discos. “The God Machine” foi anunciado com cerca de um ano de antecedância e, neste período, a banda foi disponibilizando singles que serviram como um aperitivo pra lá de suculento antes da degustação do prato principal. “Violent Shadows” foi tocada ao vivo na edição do Wacken de 2020 e já impressionou pelo peso e velocidade, mas quando as excelentes “Deliver Us From Evil”, “Secrets Of The American Gods” e “Blood Of The Elves” foram apresentadas em 2021 e 2022, ficou evidente que o quarteto resolveu investir em uma espécie de retorno as suas raízes do Speed/Power.





Um dos muitos acertos do álbum é o fato dele ser bem enxuto. Com apenas 9 canções no tracklist, o Blind Guardian passou o seu recado de forma direta, sem firulas ou canções embutidas de forma desnecessária apenas para ganhar minutagem. Não há momentos descartáveis e todas as composições trazem relevância para a audição. Outro grande acerto é a produção do mestre Charlie Bauerfeind em conjunto com Joost Van Den Broek. Como boa parte das músicas tem um ritmo acelerado e são cheias de energia, não havia possibilidade de investir em uma produção polida semelhante a do registro anterior, “Beyond The Red Mirror” (sim, desconsidero em absoluto o famigerado “Twilight Orchestra”). Em “The God Machine” você sente que aquele velho punch está de volta, as guitarras da dupla André Olbrich e Marcus Siepen estão com uma timbragem adequada e a bateria de Frederik Ehmre martela pesada e veloz em boa parte da audição, exprimindo o puro creme do Speed Metal germânico que tanto amamos.

Mais um acerto do álbum está em não abandonar por completo a musicalidade dos trabalhos pós “Nightfall In Middle-Earth”. Mesmo tendo em mente que o disco tem como proposta uma volta à sonoridade original da banda, os vocais de Hansi Kursh, apesar de ainda soarem muito bem, não tem mais a potência do início da carreira. Somente com a mescla musical destas duas fases, o vocalista conseguiria transitar tão bem entre a agressividade e as partes mais suaves e melodiosas. E foi através desta amálgama pouco provável que as músicas se tornaram funcionais e muito atraentes a ouvidos distintos. Literalmente, estamos diante de um agrupamento de 9 canções capazes de agradar a gregos e troianos. Este é um disco que fãs antigos e novos irão adorar e elogiar sem ressalvas.

Se você é amante daquele Blind Guardian veloz e cortante, “Deliver Us From Evil”, “Damnation”, “Violent Shadows”, “Architects Of Doom” e “Blood Of The Elves”, certamente, farão a sua cabeça. Se você prefere aquelas faixas mais épicas, cheias de coros e refrãos grandiosos, se prepare para se emocionar com “Secrets Of The American Gods”, “Life Beyond The Spheres”, “Let It Be No More” e “Destiny”. Importante ressaltar algumas características presentes em todas estas músicas: quando menciono palavras como “veloz e cortante”, não espere nada parecido com “Banish From Sanctuary”, “Lost In The Twilight Hall” ou “Time What Is Time”. Apesar de em muitos momentos, os andamentos das faixas flertarem e muito com os andamentos destes clássicos, o que temos aqui é uma nova fase se iniciando. Da mesma forma, quando menciono momentos mais amenos e melodiosos, tenha em mente que o peso está presente e, nem de longe, temos a morosidade de álbuns como “A Twist In The Myth”, “Beyond The Red Mirror” ou “A Night At The Opera”.


Fonte: Mundometalbr.com

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