Há 26 anos, Max Cavalera dava inicio àquele que seria o projeto responsável por dar continuidade ao que o musico ajudou a construir no inestimável clássico “Roots”, talvez o mais importante álbum de sua primeira e ex banda, Sepultura.
A partir do obscuro “Dark Ages”, lançado em outubro de 2005, temos oficialmente o inicio da nova encarnação do Soulfly que permanece até os dias de hoje, mostrando também um Max que se mostrava cada vez mais obstinado e criativo, numa fome insaciável por música pesada, buscando beber da sonoridade que ele mesmo ajudou a moldar na década de 90 e requintes daquele Death Metal arcaico e direto, que faz parte do DNA dos Cavaleras.
Entre 2005 e 2018, capitaneados pela frutífera parceria entre Max e Marc Rizzo, foram lançados “Dark Ages”, “Conquer”, “Omen”, “Enslaved”, “Savages”, “Archangel” e “Ritual”, uma sequência insana de registros destruidores que ainda permanece injustiçada pela maioria do público.
Infelizmente, em meados de agosto de 2021, Marc Rizzo deixa oficialmente o Soulfly após 18 anos, alegando que não houve nenhum suporte por parte da banda durante a pandemia da Covid-19.
Este foi um fator que provavelmente deixou uma leva de fãs um tanto preocupado com o sucessor do “Ritual”, visto que Marc havia se tornado uma parte importante do Soulfly.
O que podemos dizer no fim das contas é que o Sr.Cavalera realmente não demonstra nenhum sinal de que está desacelerando o seu ritmo apesar do revezes e nos da mais um novo exemplar daquilo que faz de melhor…
Lançado oficialmente em agosto de 2022, “Totem” marca o décimo segundo full-lenght do Soulfly e nada menos que o terceiro álbum de um projeto de Max Cavalera, num período de dois anos.
É notável como Max, em sua incansável necessidade de fazer música pesada de maneira tão intensa, ainda consegue imprimir uma identidade tão genuína após todos esses anos.
Se por um lado, Max acabou perdendo um exímio guitarrista como Marc Rizzo, por outro, ganhou com um excelente produtor e exímio músico como Arthur Rizk (Power Trip,Eternal Champion, Cavalera Conspiracy, Kreator). Desde o último registro do Cavalera Conspiracy, intitulado “Psychosis” (2017), Max tem trazido Arthur em suas empreitadas sempre que possível, e o resultado é sempre ótimo. O talento para produção e mixagem, que esse cara vem apresentando nos últimos anos, não é brincadeira meus amigos, talvez um dos mais importantes produtores voltados para o Metal da atualidade.
Desde os primeiros segundos de “Superstition”, primeiro single ofical disponibilizado, o ouvinte sabe exatamente a agressão sonora que está por vir, é a formula do Soulfly totalmente sólida e inconfundível, sem espaço para deslizes aqui.
Se a faixa que abre o registro já mostra uma sonoridade extremamente sólida, na sequência temos um dos melhores momentos do registro já de cara. Ninguém menos que John Tardy (Obituary) divide os vocais com Max em “Scouring The Vile”, resultando em uma das melhores participações de toda a discografia do Soulfly, simplesmente insano.
Senhor Zyon Cavalera (Z-Money para os íntimos) tem se superado a cada álbum que lança com seu velho. Desde de sua entrada oficial no Soulfly, no álbum “Savages”(2013), Zyon vem demonstrando ter herdado a fome incansável dos Cavaleras por música, a cada registro, ele vem evoluindo mais e mais, destruindo tudo pelo caminho. A prova disso fica por conta de “Filth upon Filth” “Rot in Pain”, “The Damage Done” e a poderosa faixa título, “Totem”, uma sequência assassina de porradas na orelha, cheias de grooves pesadíssimos e uma agressividade intimidadora .
A abordagem lírica, que Max traz para basicamente todos os seus projetos, é sempre um fator deveras importante para catalisar todo o rumo que o álbum em questão vai tomar. E como bem sabemos, sua espiritualidade e seus ideias são estão sempre atrelados ao Soulfly, mais do que qualquer outra banda. A fantástica arte da capa, desenhada pelo artista James Bousemna, nos dá uma visualização dos conceitos líricos empregados em “Totem”.
Para aqueles que conhecem e apreciam a sonoridade do Soulfly, no inicio ou atualmente, sabe que sempre existiu um experimentalismo aliado aos riffs insanos e a agressividade, seja em forma de percussões tribais ou adição de instrumentos brasileiros, sempre houve uma característica primitiva e tribal inerente no aspecto sonoro, goste ou não, está sempre lá.
Mas o ponto interessante aqui é fato de que Max tem estado tão imerso nessa criação constante de riffs assoladores, que transitam entre o Groove e o Death Metal, que todo essa adição de elementos e criações de atmosfera acabam se tornando meros detalhes adjacentes dentro de toda essa sequência de agressividade e peso. Isso fica evidenciado em “Ancestors” e “Ecstasy of Gold”, com Arthur Rizk e Max dividindo as partes de guitarra de maneira espetacular e uma absurda timbragem de cair o queixo.
Com seus quase 10 minutos de duração, “Spirit Animal” fecha como a faixa mais épica e caótica do álbum, em um verdadeiro festival de riffs e uma atmosfera que predomina uma sensação ritualística de cânticos de guerra, todo o andamento faz referência aos primórdios do Soulfly. Richie Cavalera divide os vocais com Max numa excelente adição pro registro e ainda conta com Chris Ulsh (Power Trip), responsável por solos simplesmente alucinantes, encerrando o álbum com um tom diferenciado dos anteriores.
Integrantes :
- Max Cavalera (vocal, guitarra)
- Zyon Cavalera (bateria, percussão)
- Mike Leon (baixo)
- *Arthur Rizk (guitarras adicionais, produção e mixagem)