The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart e Machine Messiah, de 2013 e 2017 respectivamente, foram entendidos como álbuns de afirmação rumo a um novo caminho. Por isso, existe quem diga que o terreno de preparação para a chegada de Quadra já estava sendo meticulosamente pavimentado por Andreas Kisser há tempos. Ao observar atentamente o contexto do momento, é exatamente o que acredito.
Ambiciosamente planejado para ser grandioso, o novo álbum do Sepultura procurou consolidar definitivamente a banda em sua nova identidade sonora. Ao longo de pouco mais de 50 minutos, temos um Sepultura que utiliza grooves percussivos, passagens em arranjos de violão clássico, sinfonias e o cantor Derrick Green explorando seu vocal de forma mais melódica como nunca o fez antes. Mas calma, tudo isso a cabo de muitos riffs pesados, solos de guitarra espetaculares e o monstro Eloy Casagrande descendo o braço em seu kit percussivo para trazer várias soluções rítmicas.
Com a produção de Jens Bogren na Suécia, as 12 faixas foram divididas em quatro seções de 3 músicas. Ou seja, o álbum é conceitualmente dividido em quatro partes (como um LP em vinil duplo). Isolation abre a primeira parte, mais pesada, como a explosão de uma bomba. Um ótimo trash metal com toques progressivos que já havia sido mostrado ao vivo em 2019 no festival Rock in Rio. Capital Enslavement dá o tom do que será a segunda parte do álbum, com muito groove em uma parede sonora visceral. Destaque desse segundo quarto do disco, Raging Void tem um ritmo experimental e fecha a primeira metade do álbum. Contudo, o melhor ainda está por vir.
Dedilhados eruditos ao violão em Guardians of Earth abrem a terceira parte do álbum. Nesse ponto, as faixas começam a ganhar contornos sinfônicos com orquestrações e coros inseridos de maneira muito competente, servindo como aliados a embelezar o DNA pesado da banda. A parte final, e mais surpreendente, traz a belíssima e quase épica Agony of Defeat, onde Derrick canta de forma pausada e mais melódica. No encerramento, com a primorosa e sombria Fear; Pain; Chaos; Suffering, Emmily Barreto (da banda Far From Alaska) participa dando toque feminino aos vocais.
A segurança do veterano Paulo Jr. no baixo, a técnica apuradíssima e ovacionada de Eloy Casagrande na bateria, a reinvenção de Derrick Green nos vocais e a liderança de Andreas Kisser nas guitarras mostraram as quatro faces do Sepultura: trash metal, groove metal percussivo, metal progressivo e metal sinfônico. Após a conturbada fase no início dos anos 2000, o Sepultura consolidou sua reinvenção de modo espetacular e voltou a atrair a atenção do mundo. Quadra é a maior prova disso.
Fonte: Whiplash.net
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