Quando o primeiro álbum de estúdio finalmente viu a luz do dia, em 1989, o MORBID ANGEL já era uma banda bem diferente daquela que tinha iniciado a jornada. Mais do que isso, eles já eram considerados uma lenda no underground, e sua música já era referência para muitas bandas ao redor de todo o planeta. Claro que tudo isso se devia ao intenso circuito de troca de fitas (tape tradring), que colocou registros seminais como as demos Bleed For The Devil (1986) e principalmente Thy Kingdom Come (1987) nas mãos certas, o que por sua vez bastou para que o grupo conseguisse contato com a Earache para o lançamento do primeiro álbum.
Tá certo, o caminho não foi tão direto assim. Digamos que o MORBID ANGEL tinha um outro plano, e em 1986 eles gravaram nove faixas, que seriam bem mais tarde, em 1991, lançadas sob o nome Abominations Of Desolation. Chegará o momento em que discutiremos propriamente esse álbum, mas por ora, guarde na sua mente que a banda não ficou satisfeita com o resultado e engavetou o disco até segunda ordem. Nesse ínterim, a formação também se desestabilizou. O baterista/vocalista Mike Browning deixou o grupo após uma discussão com o guitarrista e ‘manda-chuva’ da banda, Trey Azagthoth. O baixista John Ortega também cedeu o seu lugar, e assim a dupla de guitarristas (Azagthoth e o saudoso Richard Brunelle, falecido no ano passado) precisou formar um novo time.
Para o baixo e os vocais, a banda encontrou David Vincent, um músico e produtor da Carolina do Norte, e que já tinha trabalhado com o MORBID ANGEL como produtor de seu álbum engavetado. Para a bateria, o nome escolhido foi o de Pete Sandoval, então baterista do seminal TERRORIZER. Essas duas mudanças foram fundamentais para transformar o Morbid Angel naquela banda imparável que conhecemos de Altars Of Madness. David trazia enorme influência de vocalistas como Chuck Schuldiner (DEATH) e Jeff Becerra (POSSESSED), mas agregava uma performance e uma vibração única e repleta de energia, que desde então se tornaria referência no estilo. Sandoval, por sua vez, não se tornou uma lenda da bateria à toa. Sua forma de tocar ‘blast-beats’ (com o trabalho do pé direito no bumbo sendo por um tempo chamado de ‘apagador de cigarros’ nos EUA, por conta do movimento característico do pé) foi inovadora para a época, e uma nova alternativa ao D-Beat do DISCHARGE e o fortíssimo e pioneiro estilo de D. D. Crazy (SARCÓFAGO) como as formas mais brutais de abordagem da bateria até então.
Assim, com Brunelle, Azaghtoth, Vincent e Sandoval o MORBID ANGEL foi para o então ainda não lendário estúdio Morrisound (Tampa, Florida) para gravar seu icônico debut, Altars Of Madness. Produzido por Digby Pearson (CARCASS, NAPALM DEATH, BOLT THROWER, BRUTAL TRUTH), com engenharia de Tom Morris (ICED EARTH, CORONER, KREATOR, OBITUARY, SAVATAGE), e co-produção da própria banda, Altars Of Madness fez muito para se tornar um dos álbuns definitivos do death metal.
Para começar, Immortal Rites pode ser considerada como uma das faixas de abertura mais icônicas da história do heavy metal sem nenhum medo de exagero. O trabalho incrível de Brunelle e Azaghtoth não esconde, apenas evidencia ainda mais a pegada absurda de Sandoval, e a entrada dos vocais de Vincent foram um marco para o gênero, basta ver quantas vezes aquelas primeiras linhas de voz foram emuladas por outras bandas ao longo dos anos. Mas, o que mais impressionava, é que o MORBID ANGEL não chegava apenas para ser mais um nome no crescente cenário do death metal. Eles queriam ser a elite do gênero, eles tinham a ânsia de serem os melhores, e isso era demonstrado em músicas que eram diretas e extremamente agressivas, mas que ao mesmo tempo eram extremamente bem trabalhadas, gerando uma complexidade rítmica e técnica que logo colocaria o death metal em um novo patamar. O uso consciente e inteligente dos teclados (pecado dos pecados, para alguns) também foi um elemento fundamental, e nesta tarefa Azaghtoth também se mostrou tão eficiente quando como guitarrista. É inegável que os teclados ajudaram a gerar o clima soturno e macabro que o MORBID ANGEL carecia, e até hoje é de arrepiar os cabelos as breves incursões de teclado em Immortal Rites.
Claro que o álbum ainda tem muito mais para oferecer. Suffocation é um arrombo técnico brutal, e precede o nascimento do brutal death metal em alguns anos, especialmente por suas linhas instrumentais intrincadas e mudanças rítmicas absurdas. Esse é também um dos principais chamarizes de Visions From The Dark Side (outra mostra da razão que levou Trey Azaghtoth a se tornar o nome fundamental das guitarras no death metal), e a trinca Maze Of Torment, Lord Of All Fevers & Plague e Chapel Of Ghouls são uma espécie de dever de casa obrigatório para qualquer fã do estilo.
O fato é que, embora o álbum apresente mudanças de tempo abruptas, com a música às vezes caminhando em andamentos realmente lentos (para os padrões do ‘old school death metal’, claro), o álbum não apresenta nem sequer um único momento de descanso para os ouvidos. Sem interlúdios, sem melodias exageradas, sem qualquer tipo de besteira, Altars Of Madness é um pioneiro da brutalidade no death metal, e mais que isso, uma mostra do tamanho da diferença que um time de músicos de habilidade acima da média pode oferecer no processo de composição e gravação.
Liricamente, Altars Of Madness também teve um papel importante, já que o MORDIB ANGEL fugia do terror trivial e da blasfêmia pueril para letras mais místicas e fortemente voltadas ao oculto, com referências aos cultos sumérios (e mesopotâmicos em geral) tomando muitas vezes a linha de frente em canções muito mais aterradoras do que qualquer ataque direto ao cristianismo poderia gerar.
Ah, e quanto à capa, o que poderíamos dizer sobre o trabalho de Dan Seagrave senão que ele é perfeito e absolutamente atemporal? Afinal, você conhece alguma outra imagem que explique tão bem o que é um ‘maze of torment’ quanto aquela? Mesmo que hoje saibamos através do próprio artista que a inspiração partiu de uma imagem do filme The Thing (ou O Enigma de Outro Mundo, no Brasil), tudo em Altars Of Madness é histórico, lendário. Mas para o MORBID ANGEL, esse era ainda apenas o primeiro degrau de uma longa escada…
Fonte: RoadieCrew.com
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