quinta-feira, 16 de novembro de 2023

RESENHA: PRIMAL FEAR – “CODE RED” (2023)

 


Com a chegada de “Code Red”, Primal Fear nos apresenta o seu décimo quarto trabalho de estúdio. E se alguém me dissesse naquela tarde nublada de dezembro, em 1997, quando fui buscar o debut dos alemães na nostálgica Galeria do Rock, no centro de São Paulo, que eles iriam chegar tão longe e quase trinta anos depois ainda estariam firmes e fortes, provavelmente, eu não acreditaria. Mas aqui estão eles, prontos para tentar nos provar que aquele Heavy/Power Metal grudento, repleto de riffs cortantes, melodias de fácil assimilação, refrãos grandiosos e andamentos alucinantes, ainda é capaz de nos causar comoção.

   

Bem, antes de nos aprofundarmos nestas questões, é necessário falar sobre Mat Sinner. Quem acompanha a banda, sabe que o baixista e um dos membros fundadores, teve alguns problemas de saúde que podemos classificar como de natureza grave. A banda publicou uma nota onde avisava aos fãs que faria uma pausa por tempo indeterminado para que um dos seus integrantes pudesse cuidar da saúde.

Na época, não foram divulgadas tantas informações sobre o que exatamente estava acontecendo com Mat. Mas depois acabamos descobrindo que o músico passou por internações, procedimentos e, somente há pouco tempo, através de postagens pessoais do próprio Mat Sinner. Assim sendo, ficamos um pouco mais tranquilos com as boas novas de que ele estava se recuperando bem e logo voltaria a exercer suas atividades musicais com o Primal Fear. Estas boas notícias vieram após longos oito meses internado em oito hospitais diferentes, só para termos uma noção do quão complicada foi a vida de Mat nos últimos tempos.

O SURPREENDENTE “CODE RED”

Obviamente, “Code Red” nos pegou de surpresa. Não imaginávamos que o retorno seria em tão pouco tempo. Basta você assistir aos videoclipes dos singles “Another Hero” e “Deep In The Night”, que vai notar duas coisas, uma é a ausência do guitarrista Magnus Karlsson, que gravou o disco mas não está presente nos videoclipes, e a outra é a condição muito frágil de Mat Sinner. É notório que ele ainda está bem debilitado e, talvez por conta disto, o baixista Alex Jansen é quem vem se apresentando ao vivo com a banda.


Com toda esta situação adversa, Primal Fear conseguiu fazer algo muito difícil que é entregar composições extremamente boas. Isso me deixou realmente surpreso.

Quando os singles começaram a ser disponibilizados, primeiro “Another Hero”, que também é a faixa de abertura do álbum, logo depois “Deep In The Night”, esta segunda já com um enorme potencial comercial, uma musica verdadeiramente pegajosa, pesada e com linhas vocais muito boas de Ralf Scheepers, percebemos que começava a se desenhar um cenário favorável para os alemães. Por fim, veio “Cancel Culture”, e esta foi aquela música responsável por fazer o nosso cérebro explodir em catárse. Com esses três singles, ficava evidente que poderíamos estar diante de um disco diferenciado. Quando chegou o aguardado dia 1 de setembro, data do lançamento oficial, pudemos confirmar tudo isso com a audição completa de “Code Red”.


“CANCEL CULTURE”, UM HINO DOS TEMPOS MODERNOS

Antes de nos aprofundarmos no restante das composições, é importante fazermos um adendo sobre “Cancel Culture”. Trata-sa de uma faixa polêmica que faz uma baita crítica a tal cultura do cancelamento. Antes de qualquer coisa, é um posicionamento muito corajoso e também muito inteligente da banda.

Em tempos onde artistas tem medo de escrever, defender ou apenas emitir suas opiniões, num momento em que verdadeiras inquisições são instauradas por sabichões escondidos atrás de telas de computador ou celular, eis que uma banda como o Primal Fear tem a dignidade de dizer: “Não! Nós não compactuamos com isto!”.

Ponto para Ralf Scheepers e cia!


MUDANÇAS NA SONORIDADE

Musicalmente, percebi que deram uma boa repaginada. Não perderam as principais caracterísitcas, mas trouxeram alguns elementos novos muito legais. Nesse álbum você quase não ouve mais aquele Heavy tradiconal nos moldes do Judas Priest (talvez, apenas em “Raged By Pain” isto é mais acentuado). Também não encontramos mais aquele tipo de Power Metal acelerado e movido a bumbos duplos como a própria banda já explorou muito bem em clássicos como “Angel In Black”, “Silver And Gold”, “Chainsbreaker” ou “Final Embrace”. Mesmo em “Cancel Culture”, que é a mais veloz do álbum, o andamento é diferente e remete muito mais a canções gravadas no álbum “Seven Seals” do que em discos mais óbvios como “Nuclear Fire”, “Unbreakable” ou “Black Sun”.

Quando nos deparamos com a variedade de ritmos contidos neste disco, podemos chegar facilmente a conclusão que a banda deu uma bela expandida na própria musicalidade. Os vocais do Ralf estão mais contidos, mas não se engane, ele sobe sempre que precisa, alias, o cara canta demais e isso nem é mais novidade para ninguém…

   

As músicas estão mais trabalhadas, mais cadenciadas e em todas elas você percebe um capricho enorme em apresentar para o fã uma construção criativa que faz valer a pena a experiência da audição. Portanto, as músicas não foram criadas naquele esquema simplista de “repetição de formula”. Além disso, o trackilist não apresenta canções do tipo “feitas e colocadas no disco para encher linguiça”.

DESTAQUES DO DISCO

Meus destaques pessoais vão primeiramente para “Bring That Noise”. Ela é moderna e nem por isso dispensável. Destaco também “Play A Song”, que deve ter a ver com o estado de saúde de Mat Sinner e contém mensagens do tipo:

“É ESSA CERTA MÚSICA, ESSA CERTA MELODIA
QUE ME LEMBRA DE UM CERTO TEMPO
É SEMPRE A MÚSICA QUE ME AJUDA
QUE ME ANIMA E QUE AFASTA AS NUVENS ESCURAS
QUE ILUMINA MEU DIA MAIS SOMBRIO

BASTA TOCAR ESSA MÚSICA
QUANDO O MUNDO INTEIRO PARECER ERRADO
A MÚSICA TE DARÁ PODER
ESQUEÇA A TRISTEZA
NÃO PENSE NO AMANHÃ
BASTA TOCAR A MÚSICA”

Ainda destacando algumas das minhas favoritas, não posso deixar de mencionar a grudenta “The World Is on Fire”, detentora do refrão mais legal do registro, daqueles para cantar junto com o punho cerrado para o alto. E, claro, a balada “Forever” mereceria um capítulo à parte. Desde o disco de estréia de 1997, eu espero uma balada do Primal Fear que ao menos consiga realizar uma comparação justa com a excepcional “Tears Of Rage”. Ok, talvez seja um pouco cedo para dizer que esta canção é “Forever”, mas ela realmente emociona o ouvinte com todas as suas camadas e detalhes.

Deixando avisado que todas as outras também são dignas de nota, cada uma com sua particularidade, convido todos os amigos leitores a compartilhar desta audição.

TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES SOBRE O ÁLBUM

Não se deixe levar por críticas rasas que tem colocado “Code Red” injustamente no campo das obras pouco memoráveis ou até mesmo esquecíveis de 2023. Tampouco acredite em análises que afirmam que o Primal Fear apenas se repetiu mais uma vez e não apresenta nada que possa ser comemorado em sua mais nova empreitada. Se você é um fã um pouco mais “die hard”, assim que realizar as primeiras audições vai saber imediatamente que tudo isso não passa de balela de crítico sabichão.

Além de trazer coisas inéditas como um Ralf cantando mais contido, teclados mais evidentes, canções mais cadenciadas e estruturas criativas distintas, ainda faz isso tudo com um adendo muito importante: a inspiração. É óbvio que “Code Red” não servirá para reinventar a roda do Power Metal. Porém na carreira do Primal Fear, soa como um sopro de renovação.

Torcemos de coração para que Mat Sinner se recupere totalmente. Tomara que logo, ele esteja na estrada “apenas tocando aquelas músicas que lhe darão poder para esquecer a tristeza e não pensar no amanhã”

Nota: 9

 

Fonte: Mundometalbr.com

Nenhum comentário: