Jairo Guedz, guitarrista do The Troops of Doom, conversou recentemente com, o Conexões do Underground e discutiu sobre o cenário do metal no Brasil. Jairo abordou as dificuldades que muitas bandas enfrentam para conseguir shows, e as questões mercadológicas e de produção de eventos com relação à cena do metal. Segundo Jairo, nesses quesitos, nós ainda “precisamos crescer e evoluir muito”, e ele rejeita a ideia de se submeter a tudo (como tocar de graça, por exemplo) para conseguir tocar em algum lugar e em troca da mínima visibilidade. Ele explicou:
“Eu acho que tem muito defeito ainda, precisamos crescer e evoluir muito em vários sentidos, principalmente na questão de produção, na questão de respeito às bandas brasileiras. Nós vemos festivais no Brasil em que as bandas gringas têm um respeito imenso da produção, enquanto as bandas nacionais passam por perrengues… Vão com a cara e com a coragem e não recebem cachê, e etc. Então isso é uma coisa que eu acho que precisa mudar.
E sempre foi assim. O primeiro show que eu fiz com uma banda gringa foi o Sepultura abrindo para o Venom e para o Exciter em 86, no início do Morbid Visions que a gente estava lançando. Eu nem lembro se já tinha o Morbid Visions para falar a verdade, eu acho que não. Mas foi ali.
E vou te falar que fomos tratados com um certa… Com um pouco dessa falta de cuidado, mas como Belo Horizonte é pequena e a Cogumelo era uma gravadora que estava muito envolvida nesse show que queria muito que nós o fizéssemos e nos apoiava muito, nós tivemos menos problemas do que imagino hoje, se fosse hoje.
Nós tínhamos muito pouco tempo de palco e muito pouco espaço de palco, mas fora isso fomos respeitados sim. Eu já recebei mais falta de respeito e de carinho nos últimos cinco anos no Brasil do que lá em 86… Então assim, isso me preocupa um pouco. E eu também não espero, não quero e não é um desejo meu que me respeitem porque eu sou Jairo Guedz, eu quero respeitem a todos nós, que esse respeito seja abrangente, que seja para todos, para mim, para os caras do Overdose, do Black Pantera, do Korzus, as meninas da Crypta, da Nervosa, para todos, bandas pequenas que estão surgindo agora e vão fazer os primeiros shows…
Eu sei que é impossível e inviável a gente querer dar os mesmos direitos e a mesma estrutura que vai dar para uma banda gringa e com mais tempo de estrada, para as bandas daqui, menores, e etc. Vamos citar o que aconteceu com os Ratos de Porão no Knotfest, os caras tocaram no escuro porque o palco do Slipknot precisa ser montado com as luzes acesas, quero dizer, os caras que estavam montando o palco do Slipknot, a equipe que monta o palco estava chamando mais atenção que a banda que estava tocando. Eu acho isso um absurdo, uma palhaçada, mas a gente precisa passar por isso e se a gente não fizer isso, a gente não toca em lugar nenhum.
Eu não acho que temos que aceitar tudo. Eu sou contra tocar de graça só porque vai aparecer para a galera. Eu acho que todo mundo merece receber por isso, mesmo que seja pouco, mas merece receber.
Eu já toquei de graça sem tirar dinheiro do meu bolso, porque Valia muito a pena, me pagaram passagem aérea, me pagaram hotel, alimentação, tudo, então no fundo nem é de graça. Mas hoje eu vejo que tem gente faz muito isso, gente que está começando e acha que isso vai levar a algum lugar, e não leva, isso só piora o mercado.
Mas isso é uma coisa que tem que vir de cima para baixo também, não só de baixo para cima. Os produtores têm que ter essa consciência e valorizar as coisas que realmente são boas, e eu não estou dizendo que todo mundo que tem uma banda merece a mesma estrutura, nem nada. Não é isso. Eu estou dizendo que as bandas que são boas e que trabalham direito, com honestidade e respeito ao próximo, respeito à equipe, à produção e ao público, merecem respeito de volta.
Hoje em dia estamos passando por um período mais complicado, apesar do público comparecer, e ter muita criança e gente nova, e isso é muito bom porque é uma renovação, e eu me vejo nesses meninos de 14, 15, 16 anos, lá nos 80. Então eu acho que isso é renovador de alguma forma. Então eu acho que está na hora das pessoas que trabalham no desenvolvimento desse mercado, das pessoas que são responsáveis por essa estrutura de business e mercadológicas, vamos dizer assim, olharem para isso de uma forma muito business mesmo. A gente pode inclusive ganhar muito com isso, podemos ganhar dinheiro com isso. ‘Vamos botar essas bandas, vamos fazer desse jeito, vamos dar estrutura para essas bandas’. Eu já vi muita banda – e eu já passei por isso… Eu vi muita muita banda boa fazer show ruim sem ser culpa dela, e isso é muito ruim. É como você dar palitinho de comida japonesa para um cirurgião realizar uma cirurgia… Ele pode ser foda o quanto for, ele pode ser o melhor cirurgião do mundo, mas ele não vai fazer bem feito. Ele tem que ter as ferramentas para fazer isso, e têm que ser tão boas quanto ele. Então eu luto muito por isso.
Quando um produtor me destrata eu converso com ele, eu não sou do tipo que sai brigando e cuspindo nos outros, mas eu converso, eu tento mostrar para ele que ele está errado, que esse não é o caminho.”
O The Troops of Doom lançou seu novo álbum “A Mass To The Grotesque” em 31 de maio de 2024 via Alma Mater Records.
Fonte. Mundometalbr.com
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