3 anos após o lançamento do elogiado “Dominion”, o Hammerfall retorna ao front de batalha com mais um álbum de estúdio, desta vez, “Hammer Of Dawn” foi o nome escolhido e o quinteto tenta provar que a boa fase segue rendendo bons frutos. O décimo segundo registro da discografia dos suecos chegou às lojas no último dia 25 de fevereiro e, assim como seus antecessores, entrega aquela musicalidade característica da banda, sem tirar e nem por.
TÁ, MAS É BOM?
Para responder a esta questão precisamos fazer algumas reflexões importantes. A primeira delas é que se você é um daqueles ouvintes que nunca conseguiu se empolgar com nenhum dos outros lançamentos do Hammerfall, dificilmente, este aqui vai te chamar a atenção. “Hammer Of Dawn” é um disco que segue a risca e com extrema fidelidade a proposta adotada desde 1993, ano em que a banda foi fundada. Traduzindo: é um disco feito para os fãs.
Se você for um fã daqueles um pouco mais criteriosos, poderá até mencionar que os quatro primeiros trabalhos são insuperáveis e, é fato, a banda jamais conseguiu atingir aquele nível novamente. Como contra-argumento posso dizer que, apesar de concordar, os dois últimos, “Built To Last” (de 2016) e “Dominion” (de 2019), se aproximaram bastante da quadra inicial.
Para fazer uma análise justa e coerente, precisamos entender um ponto chave que serve para analisar bandas como Accept, Saxon, Satan, Primal Fear, Helloween, Hammerfall e tantas outras. Você deve estar perguntando o que esses grupos possuem em comum, mas a resposta é simples: elas possuem uma fórmula muito específica que se aplica em praticamente todos os seus discos. Toda vez que essas bandas estiverem com criatividade e inspiração em um nível elevado, sairão obras do mais alto quilate, consequentemente, quando não estiverem com seu poder criativo a todo vapor a qualidade dos registros irá cair. Dificilmente você vai ouvir um disco ruim do Saxon, mas é quase um consenso dizer que “Carpe Diem” é mais atrativo que “Battering Ram”. Tanbém podemos afirmar sem medo de errar que “Sacrifice” ou “Thunderbolt” agradou mais que “Call To Arms”. Obviamente isto não é uma ciência exata, no final das contas tudo se resume ao gosto pessoal do ouvinte, mas estas são afirmações que a maioria dos fãs de Saxon irão concordar. Estou usando o Saxon como exemplo justamente para conseguir ser bem didático e explicar o seguinte fato: o Hammerfall sempre irá agradar os seus fãs, algumas vezes mais e outras menos, mas dificilmente (me arrisco a dizer que nunca) irão lançar um trabalho asqueroso ou realmente desprezível.
Respondendo a pergunta: sim, “Hammer Of Dawn” é um disco muito bom!
Talvez não seja ótimo como “Built To Last” ou excepcional como “Dominion”, mas traz em seu tracklist algumas composições que certamente irão se tornar novos hinos para ser cantadas em uníssono nos shows ao vivo da banda. E só por isso, você que é fã, pode mergulhar de cabeça por que todos os clichês que talharam o nome do Hammerfall na pedra do Heavy Metal contemporâneo estão em seus respectivos lugares. O mascote Hector estampa a capa, os temas épicos estão lá, as músicas mais rápidas se fazem presente, assim como aquelas mais cadenciadas e donas de refrãos grudentos.
“OK, MAS SE TUDO QUE O FÃ ESPERA ESTÁ NO DISCO, POR QUE DEU A ENTENDER QUE “BUILT TO LAST” E “DOMINION” SÃO SUPERIORES?”
Boa pergunta, jovem Padawan! Posso afirmar que “Hammer Of Dawn” tem dois ápices, o início com quatro músicas realmente boas e o final com três bordoadas aos moldes de clássicos como “Heading The Call”, “Unchained” ou “Keep The Flame Burning”. Mas o meio do disco é um pouco morno. E isso faz com que a audição em determinado momento dê algumas esfriadas para depois subir a temperatura de novo. Nos discos anteriores, o Hammerfall consegue manter uma sequência mais concisa e isso ficou evidente em minha análise.
A audição inicia com dois dos singles disponibilizados anteriormente ao lançamento: “Brotherhood” e a canção título “Hammer Of Dawn”. E são duas músicas extremamente fortes e capazes de arrancar sorrisos de satisfação até mesmo dos fãs mais pessimistas. Enquanto “Brotherhood” tem aquela levada rítmica bem direta e acelera bastante principalmente do meio para frente, “Hammer Of Dawn” é uma música para ouvir e bangear loucamente ao som das palavras “Thunder, lightning, hammer, fighting!”. A sequência inicial ainda traz a belíssima “No Son Of Odin”, com seus riffs cortantes, refrão grudento e solos de muito bom gosto, além do single “Venerate Me”, que traz uma participação quase nula do mestre King Diamond. O que salva o fiasco da participação é a qualidade acima da média da composição, aqui realmente parece que Oscar Dronjak e Jacim Cans tentaram compor uma faixa para um dos discos de King. O resultado é brilhante.
Depois desta sequência inicial realmente matadora, “Reveries” me trouxe um misto de sensações já que não é uma música ruim, longe disso, porém, confesso que aquele corinho de “na na na na na, na na na na na”, me soou bobo demais, quase engraçado… “Too Old To Die Young” é uma música veloz, daquelas tipicamente Hammerfall e faz a temperatura subir levemente, mas aí entra a balada “Not Today” e, definitivamente, esta não é uma das melhores baladas feitas pelos suecos. Por conta de um acaso do destino, “Not Today” é a música mais longa do álbum com quase 6 minutos de duração.
Eu sei, este é o ponto em que o ouvinte começa a se preocupar com uma possível “flopada” dos suecos, mas queriam os deuses do Heavy Metal apenas nos aplicar uma pegadinha e “Live Free Or Die” revigora a audição por completo com aquela fórmula manjada de velocidade, refrão marcante e performance impecável dos músicos. Para o final, ficou reservado os dois melhores momentos do álbum, o primeiro com “State Of The W.I.L.D.”, uma canção vigorosa e que faz frente aos melhores momentos do passado glorioso. O segundo com a visceral “No Mercy”, nos remetendo diretamente ao incomparável “Legacy Of Kings” e encerrando a audição de forma apoteótica.
Um outro fator elogiável é a produção conjunta feita por Jacob Hansen (Volbeat), Pontus Norgren, Oscar Dronjak e Fredrik Nordström (Arch Enemy, In Flames, Opeth, Powerwolf), este último também responsável pela mixagem e masterização. Todos os instrumentos são ouvidos de forma nítida e cristalina e a timbragem das guitarras ficaram excelentes. A performance individual dos músicos é outro ponto favorável, Pontus Norgren executa solos virtuosos e ao mesmo tempo cheios de melodia e feeling, o baixista Fredrik Larsson exibe uma solidez admirável e o baterista David Wallin mostra cada vez mais ter sido uma escolha acertada. Já o guitarrista Oscar Dronjak e o vocalista Joacim Cans são as forças da natureza que fazem com que todos os alicerces do Hammerfall permaneçam cravados na pedra.
Se você gosta daquele Heavy/Power Metal sem invenções desnecessárias e repleto de referências acertadas aos maiores clichês do gênero, este é um disco que deverá te agradar bastante. “Hammer Of Dawn” é mais um registro de destaque na discografia de uma banda que sempre foi extremamente fiel as suas raízes e sempre entregou trabalhos no mínimo honestos.
Finalizo esta resenha deixando a letra de “Brotherhood”, uma homenagem muito legal aos fãs que apoiam o trabalho da banda desde o início e, ao mesmo tempo, uma carta de amor interna entre cada um os integrantes.
“BROTHERHOOD”
“There was a time, not so long ago you came to our side
Sisters and brothers confessing their creed by the hammer, unified
Through fire and ice, and through thunderous skies for better and for worse
A lifetime devotion, a glorious call bringing magic to our heavy metal ball
We hear our brothers sing along while our sisters standing strong
We would not be here without you
Onward we march through the fires of hell
just to be first at the strike of the bell
Welcome inside the scene of the crime our sanctified domain
We bring the action, the hammer will fall we are one, we are untamed
We all remember, and we’ll never forget the Templars made of steel
With hearts made of fire you bang to the beat
Raise your fist and get your ass up from your seat
There’s no sleep till morning until a new day’s dawning
Scream and shout, let it all out
Onward we march through the fires of hell
Just to be first at the strike of the bell
Brotherhood open for one and for all
Hammers held high we are heeding the call
If you don’t like it there is the door
Heavy is our metal, hear our mighty roar”
TRADUÇÃO: IRMANDADE
“Houve um tempo, não muito tempo atrás vocês vieram para nosso lado
Irmãs e irmãos confessaram sua crença ao Martelo, unificado
Através do fogo e gelo, e através dos céus estrondosos, para melhor e para pior
Uma devoção vitalícia, um chamado glorioso trazendo magia para nosso Heavy Metal
Nós ouvimos nossos irmãos cantarem enquanto nossas irmãs permaneceram firmes
Nós não estaríamos aqui sem vocês
Em frente marchamos através do fogo do inferno
apenas para sermos os primeiros quando os sinos tocarem
De dentro da cena do crime, seja bem vindo, este é nosso domínio santificado
Nós trazemos a ação, o martelo cairá, nós somos um, nós somos indomáveis
Todos nos lembramos e nunca nos esqueceremos dos Templários feitos de aço
Com corações feitos de fogo vocês batem no ritmo
Ergam seus punhos e levantem suas bundas dos assentos
Não haverá sono até de manhã, até o amanhecer de um novo dia
Grite e agite, jogue tudo pra fora
Em frente marchamos através do fogo do inferno
apenas para sermos os primeiros quando os sinos tocarem
A irmandade está aberta para todos
Martelos erguidos, estamos respondendo ao chamado
Se você não gostou, a saída é logo ali
Nosso Metal é pesado, ouça nosso forte rugido”
Nota: 8,3
Fonte: Mundometal.com.br
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