Não é exagero constatar, que estamos em uma das melhores épocas para o Thrash Metal mundial. Mesmo com uma infeliz pandemia global e diversas restrições impedindo que grandes bandas pudessem se apresentar ao vivo e continuar na estrada, verdadeiros clássicos modernos foram lançados nos últimos anos, tanto por parte dos incansáveis veteranos, mas também pela nova safra, o que é algo altamente estimulante, especialmente para um músico do gênero.
Após 16 anos como membro do Machine Head ao lado de Robb Flynn, Phil Demmel (guitarra) deixa a banda e um grande legado erguido em novembro de 2018. Apenas alguns meses depois, no inicio de 2019, é confirmado oficialmente a reunião do Vio-lence, trazendo em seu line-up um terço de sua formação original, contando com o próprio Demmel, Sean Killian nos vocais e Perry Strickland na bateria.
Para alguns leitores que talvez desconheçam (o que eu acho muito difícil) este capitulo da história da evolução e consolidação do Thrash Metal, um pouco de contexto histórico:
Formada no ano de 1985, em San Francisco/CA, o Vio-lence foi simplesmente uma das bandas responsáveis por definir e, posteriormente, redefinir a sonoridade do Thrash Metal old school, em especial, o Thrash da Bay Area, com seu álbum de estreia, “Eternal Nightmare”, de 1988, contando com Robb Flynn (Machine Head) na guitarra, muito antes dele se enveredar por outros rumos musicais.
O debut é marcado por um Thrash Metal altamente alucinado, veloz e frenético, marcas registradas nos maiores clássicos do gênero, feitos na década de 80. Eles ainda lançariam dois ótimos registros entre 1990 e 1993, antes de se separarem em 93, porém, entraremos em mais detalhes sobre estes discos mais adiante.
Voltando aos dias atuais, quase 30 anos sem nenhum material novo, o mais novo EP, intitulado “Let Te World Burn”, contém cinco faixas matadoras, estando entre nós via Metal Blade Records, e de quebra, duas aquisições honorárias completam o line-up oficial da nova era do Vio-lence. Ninguém menos que Bobby Gustafson (ex-Overkill) nas guitarras e Christian Olde-Wolbbers no baixo (ex-Fear Factory). Robb Flynn Infelizmente demostra zero interesse nesta reunião do Vio-lence, o que é uma pena, pois seria interessante vê-lo participar deste retorno as raízes com a banda, independente de seus ressentimentos e razões.
E o que temos então, após 29 anos de espera ? Uma verdadeira masterclass de Thrash Metal, é isso que nós temos aqui, meus caros. Apesar de conter apenas cinco faixas ao todo, são faixas de tirar o chapéu, com poder de destruição de um álbum completo.
Um fator interessante é como as expectativas para um novo material de uma banda como o Vio-lence são diferentes. Considerando que, em sua primeira era, eles começaram fazendo um Thrash alucinado e maníaco e terminaram fazendo um Thrash extremamente Groovado e cadenciado, foi criada uma expectativa ambígua no ouvinte.
Escutando os primeiros singles disponibilizados, afirmei que a banda seguiria os rumos de seus dois últimos “Opressing The Masses” (1990) e “Nothing To Gain” (1993), visto que é basicamente inviável lançar algo com mesmo nível de vitalidade e ódio presente em “Eternal Nightmare”. Porém, é inegável que existem marcas registradas em seu DNA que estão presentes em todas as composições, então podemos dizer que apesar de seguir suas formulas, a sonoridade não soa desgastante e repetida em momento nenhum.
“Flesh From Bone” foi o primeiro single divulgado pela banda em formato de lyric vídeo, e nele já podíamos ouvir o que estava por vir. Um dos aspectos que mais me agrada neste novo registro é como Sean Killian mudou sua abordagem vocal. Em vez de soar como uma paródia irritante de Mike Muir (Suicidal Tendencies), a voz de Killian envelheceu muito bem, dando um tom obscuro em certos momentos, ainda soando como um lunático.
“Screaming Always” é aquela faixa que que aparenta não ter freio, é um petardo na orelha constante e pungente, destaque aqui para o Sr. Perry Strickland descendo o braço sem dó da caixa da bateria, mostrando que ainda tem uma pegada muito firme e pesada.
“Upon Their Cross” é onde o peso e a cadencia de “Nothing To Gain” (1993) são retomados com força. Mas se engana quem acha que o ritmo tenha se perdido aqui, na metade da faixa temos uma sequencia insana de solos de guitarra muito criativos, mostrando a união musical de Bobby Gustafon e Phil Demmel de maneira bem assertiva.
“Gato Negro” é uma faixa tão divertida, quanto agressiva, lembra muito o Exodus em sua fase “Fabulous Disaster”. Aqui tenho que dar alguns créditos para o desempenho do Sr.Christian Wolbers, que mantém o pulsar firme das quatro cordas presente o tempo todo, uma característica fundamental, desde os primórdios do gênero e algo que agrada muito este humilde escrivão.
Finalizando este breve petardo,”Let The World Burn”, faixa título e segundo single liberado, representa o registro como um todo. Diferente das anteriores, aqui existe uma pegada obscura da metade para o final, dando uma identidade interessante para a conclusão e com um conselho muito bom para os dias de hoje…”Deixe o mundo queimar!”
Fonte: Mundometal.com
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