sexta-feira, 4 de março de 2022

RESENHA: SCORPIONS – “ROCK BELIEVER” (2022)



“ROCK BELIEVER’ É UM UM RETROSPECTO TRIUNFAL DO QUINTETO ALEMÃO AOS ANOS 70/80, QUE CERTAMENTE AGRADARÁ EM CHEIO OS FÃS DE LONGA DATA”…

Não é de hoje que os alemães do Scorpions prometem um disco com uma volta às origens, como fora dito por eles nos últimos anos, antes mesmo da “pegadinha” do encerramento das atividades. A propósito, esta notícia rendeu milhares de dólares para a banda, já que sua agenda certamente deve ter faltado páginas em branco para anotar as datas dos novos shows, já que a promessa de encerramento levou alguns “tiozões” (prazer, sou um deles) a correr até a casa de shows mais próxima e garantir o ingresso do provável “último show da banda”.

A verdade é que não passou de uma pegadinha de mau gosto, onde todos caíram feito patinhos, e a notícia era tão verdadeira quanto uma cédula de “três reais”, bem como a promessa de um disco com a tal volta às origens que simplesmente não havia acontecido. …Até agora!

Sete anos separam “Rock Believer” do mediano “Return to Forever”, décimo oitavo álbum da carreira lançado em 20 de fevereiro de 2015. A promessa de volta às origens vem desde “Unbreakable” de 2004, álbum que sucedeu o fiasco (e vergonhoso) de “Eye II Eye”, erroneamente editado em 1999. Se serve de aviso: Risque e apague esse disco da carreira dos alemães. Ele não merece nem menções.

Voltando ao “Unbreakeable”: O disco conseguiu fugir do horror musical de seu antecessor, mostrando que a banda tinha sim condições de gravar trabalhos superiores e assim o fizeram nos anos seguintes.

De volta ao momento atual: “Rock Believer”, décimo nono disco oficial de estúdio, quebra enfim um silêncio de sete anos sem um registro de inéditas, embora nesse período o grupo tenha lançado materiais reeditados, compilação e canções inéditas no formato singles. Caso das belíssimas “Follow Your Heart” e ” Sing of Hope”.

Produzido por Hans-Martin Buff em parceria com a banda, o disco contém 11 faixas inéditas e marca oficialmente a estreia do baterista Mikkey Dee (ex King Diamond, ex Motorhead), embora sua estadia na banda venha desde 2016 quando substituiu James Kottak (ex Kingdom Come).

A referida “estreia” refere-se de fato ao primeiro trabalho onde o baterista gravou suas partes como membro oficial, já que James Kottak foi o responsável por gravar as partes de bateria de “Return To Forever”, quando ainda era o baterista da banda em 2015.

Em “Rock Believer”, o grupo finalmente encontrou uma forma de agradar os novos e antigos fãs, já que a sonoridade aqui é de fato uma retrospectiva musical dos trabalhos lançados desde os anos 70. Ou seja, é nítido que algumas faixas apresentam linhas de vozes e sonoridade que nos remetem a registros das fases 70, 80, 90 e 2000.

Um fator predominante que difere este dos demais trabalhos estão principalmente nas harmonias e na forma como a banda economizou em baladas. Diferente de outros registros onde músicas mais lentas se sobressaiam e soavam até mesmo exageradas, aqui a banda decidiu que era preciso dar espaço ao Hard’n Heavy, e ao Classic Rock, estilos onde navegam tranquilos e soberanos.

Apresentações feitas, é hora de mergulhar nas ondas sonoras de “Rock Believer” em companhia de Rudolf Schenker (guitarras), Klaus Meine (vocais), Matthias Jabs (guitarras), Pawel Maciwoda (baixo) e Mikkey Dee (bateria), e descobrir se a promessa enfim fora cumprida.

O disco abre com “Gas In The Tank”, faixa que apresenta riffs pesados e de cara é possível perceber que algo aqui está bem diferente dos trabalhos anteriores. Trazendo a fórmula do Hard/Heavy, aliados aos vocais excepcionais de Klaus Meine que sempre casam tão bem com as guitarras de Schenker e Jabs, faz desta uma excelente faixa de abertura, onde é possível destacar de imediato os solos de guitarras (perfeitos), o refrão pegajoso, e claro, a bateria certeira de Mikkey Dee.

*Em seus riffs iniciais, é possível fazer uma conexão sonora com “Can’t Live Without You”, faixa presente no álbum “Blackout” (1982).

Chutando a porta, “Roots In My Boots” segue a fórmula Hard’n Heavy com seus riffs rápidos, pesados e mais um refrão bacana pra cantar junto. Podemos dizer que esta é uma música que combina perfeitamente com o estilo e a forma de tocar de Mikkey Dee.

Destaques para os solos cortantes de Rudolf Schenker, que definitivamente chutam os tímpanos.

*Em seus “riffs de entrada”, nos remetemos aos riffs iniciais da magnifica “The Zoo” do excelente “Animal Magnetism” (1980).

Não se deixe levar pelos riffs “modernos” de “Knock ‘Em Dead”, que traz similaridades com “Don’t Believe Her” do álbum “Crazy World”, lançado em 1990. Musicalmente, temos uma canção que difere de suas antecessoras, já que suas harmonias são tipicamente Hard Rock, formando assim a trinca perfeita do disco que já causa excelentes impressões.

Hora de conferir “Rock Believer”, faixa que batiza o disco e também o segundo single lançado. Trazendo a sonoridade mais voltada a fase anos noventa, suas melodias remetem os discos “Face The Heat” (1993), “Pure Instinct” (1996), temos aqui mais uma excelente canção onde as guitarras despejam excelentes riffs, apoiadas pela bateria precisa, vocais poderosos em mais um momento voltado ao Hard Rock propriamente dito.

*Destaque para o excelente videoclipe apresentando cenas antigas do grupo. Em uma destas cenas, a participação do quinteto na primeira edição do Rock In Rio Festival, realizado em 1985 na cidade do Rio de Janeiro.

O encontro entre “In Trance” e “Is There Anybody There” formam o DNA da excelente “Shining In Your Soul”, canção que faz o ouvinte mergulhar na fase setentista do quinteto. Em mais uma aula de vocais comandados por Klaus Meine, mergulhamos nas harmonias “diferentes” de uma música inclassificada, destoando do Hard, do Heavy, e do Classic, porém com um atrativo que faz o ouvinte esquecer de qualquer termo e/ou classificação, e no final prevalece suas melodias, seus coros e os trabalhos espetaculares de guitarras.

No início desta resenha comentei que o disco faz um retrospecto de todas as fases da banda. Certo? E se eu disser que as linhas de guitarras de “Seventh Sun” são as mesmas de “China White”? Pesada, cadenciada, rifferama comendo solta, bateria ultra pesada, backing vocals na medida certa, solo simples, porém bem encaixado e vocais soando perfeitos mais uma vez. Em outras ocasiões, talvez Klaus Meine ousasse um pouco mais nos vibratos.

Hora de conferir “Hot and Cold”, mais uma faixa pesada trazendo a sonoridade mais atual da banda, em especial aquela apresentada em “Sting And The Tail” (2010), bem como uma leve mudança nos vocais, que aqui soam mais graves e mais diretos . Explicando melhor: Não espere ouvir tons altos, agudos ou aqueles vibratos característicos emanados por Meine.

Deixando claro que isso não tira em nenhum momento a qualidade da canção, que se mantém perfeita em um disco sem nenhum deslize até o presente momento. Rock ‘n Roll puro, direto e sem frescuras! Estas são as características de “When I Lay My Bones to Rest”, talvez a faixa direta e festeira do disco. Claro que no meio desta simplicidade escondem-se as linhas de Hard Rock características na sonoridade da banda, e de forma sutil as guitarras de Rudolf Schenker e Matthias Jabs deixam claro que mesmo em momentos mais simplórios, riffs e solos são necessários.

A união do Rock’n Roll direto com o Hard Rock rápido e pesado deram origem a “Peacemaker”, primeiro single extraído do álbum, lançado em novembro do ano passado. Devo admitir que a princípio não me encantei com absolutamente nada desta canção, não conseguindo nutrir nenhum sentimento por ela. A verdade é que ouvindo atentamente suas melodias, notamos o excelente trabalho do baixista Pawel Maciwoda, responsável também pelos trabalhos de composição em parceria com Rudolf Schenker, em uma música marcante.

Traçando paralelos e buscando referência, nos deparamos com “Drifting Sun”, do excelente “Fly To The Rainbow”, segundo trabalho da banda lançado em 1974. Apesar dos longos anos que as separam, é possível notar riffs de guitarras e principalmente nas linhas pesadas e rápidas de contrabaixo.

EM RESUMO: EXCELENTE FAIXA.

Em sua reta final, “Call Of The Wild” é mais um momento grandioso do disco.

Seguindo a sonoridade apresentada em trabalhos como “Unbreakable” (2004), “Humanity: Hour 1” (2007), nos deparamos com mais uma composição pesada, cadenciada, dona de riffs e solos de guitarras geniais.

Diferente dos trabalhos anteriores, principalmente aqueles lançados após os anos 2000, que traziam consigo excessos de baladas, embora elas sejam uma das marcas registradas da banda, “When You Know (Where You Come From)” é a única presente no disco. E o que falar de uma balada composta pelo Scorpions? Mais uma vez a banda surpreende ao compor uma belíssima canção, cheia de melodias, sentimentos, flertes com o Blues Rock em seu início, além de uma letra espetacular. Cá pra nós, em se tratando do quinteto alemão, não poderíamos esperar algo diferente. Mais uma vez a genialidade de Rudolf Schenker como compositor se mostra gigante, numa música que fecha com maestria um dos melhores trabalhos da banda desde o ótimo “Crazy World” de 1990.

Tente não se emocionar ao ouvir tal refrão:

“…WHEN YOU KNOW WHERE YOU COME FROM/YOU KNOW WHERE YOU’RE GOING/JUST BECAUSE YOU’RE A CHILD OF YOUR TIMЕ/WHEN YOU KNOW WHERE YOU COMЕ FROM/YOU BACK DOWN FOR NO ONE/JUST BE TRUE TO YOURSELF, IT’S YOUR LIFE.”

(TRADUÇÃO)”…QUANDO VOCÊ SABE DE ONDE VEM, VOCÊ SABE PARA ONDE ESTÁ INDO, SÓ PORQUE VOCÊ É UMA CRIANÇA DO SEU TEMPO. QUANDO VOCÊ SABE DE ONDE VEM, VOCÊ NÃO DESISTE POR NINGUÉM, APENAS SEJA FIEL A SI MESMO, É A SUA VIDA…”

Até aqui, o disco já se mostrou excepcional e se não cumpriu a grande promessa da volta às origens, podemos dizer que houve uma aproximação em alguns momentos, se sobressaindo mais que os trabalhos anteriores que passaram longe do prometido.

Porém, a banda parece não ter economizado nas composições, e o fato de ficarem sete anos sem um registro completo de inéditas fez com que o grupo mostrasse que ainda tinha um coelho na cartola e que precisava usá-lo. E o fez.

Além da versão convencional, “Rock Believer” apresenta uma edição acompanhada de um CD bônus contendo quatro composições inéditas, além da versão acústica para a já citada “When You Know (Where You Come From)”, que ficou tão bela quanto sua versão original.

Com exceção para “Crossing Borders”, que traz uma pegada totalmente anos 80 e da já citada “When You Know (Where You Come From)”, o que se ouve em “Shoot For Your Heart”, “When Tomorrow Comes”, “Unleash The Beast” é um verdadeiro revival, e indiscutivelmente uma viagem ao passado fabuloso (musicalmente falando) da banda. Em especial aos anos 70.

Scorpions, finalmente, lançou um dos melhores trabalhos de sua carreira, já que “Rock Believer” é na minha humilde opinião o melhor disco dos alemães desde o excelente e já citado “Crazy World”.

Opinião pessoal: Um dos grandes discos de Hard N Heavy de 2022, até o momento, e finalmente a banda acertou o alvo em cheio.

ALGUNS PONTOS QUE PRECISAM SER DITOS SOBRE O NOVO TRABALHO:

  • *Os longos anos de espera finalmente valeram a pena, haja vista que o Scorpions conseguiu entregar um disco coeso, muito bem composto e há sim uma volta aos tempos áureos da banda, principalmente a fase setentista e oitentista. Estão lá pra quem quiser ver/ouvir.
  • *Em seu novo trabalho, podemos dizer que a banda compôs faixas que são fortes candidatas a hits, porém, esta perspectivas aparecerão apenas com o tempo, quando as futuras turnês acontecerem de fato e estas músicas forem executadas ao vivo.
  • *Diferente do que muitos pensavam, Mikkey Dee (baterista) entrou numa nova banda onde a sonoridade já estava estabelecida a anos. Ele (Dee) é apenas um novo funcionário, contratado por uma grande empresa. Quando saiu do King Diamond passando a integrar o Motorhead, ele não trouxe o King Diamond consigo. Então por que diabos ele iria trazer o Motorhead para o Scorpions?
  • *Em “Rock Believer”, a banda optou por fazer uma retrospectiva de toda sua discografia, revisitando seu passado em diferentes épocas. Contudo, não temos um disco feito apenas para os fãs de baladas, aqueles que ouviram “Still Loving You”, “You And I’, “Send Me An Angel” e “Wind Of Changes” e se consideram grandes fãs da banda, e que agora se dizem decepcionados com a “nova sonoridade”. Temos aqui um disco para os fãs que acompanham o quinteto desde os primórdios. É bom lembrar disso!
  • *Na estrada há mais de cinco décadas e prestes a completar 74 anos de vida, Klaus Meine mostra no novo trabalho de sua banda que os anos de estrada e dedicação ao Hard’n Heavy exigiram demais de sua excelente voz. É hora de se acostumar com sua nova voz, e não esperar que ele emita tons altos, agudos estridentes e vibrato perfeitos como fez por longos anos.
  • *Não dá pra exigir de um vocalista que ultrapassou a linha dos 70 anos de vida o mesmo desempenho e a mesma garra de quando este tinha 30 ou 40 anos. No entanto, no caso específico de Meine, ele ainda permanece com sua bela voz e seu timbre inconfundível, porém, dentro de sua limitações (por motivos óbvios) ainda se mantém na lista das grandes vozes do Hard/Heavy de todos os tempos.

Nota do Redator: Resenhar um disco em seus primeiros dias de lançamento é de fato uma tarefa arriscada, visto que há expectativas envolvidas e o gosto pessoal do fã, aliado a ansiedade podem causar divergências até mesmo no próprio autor.

É preciso enfatizar que nas músicas as coisas funcionam de uma forma diferente, já que alguns discos chamam imediatamente a atenção, enquanto outros vão caindo aos poucos em nosso gosto pessoal.

A escrita acima foi baseada em audições, redigida por um fã incondicional da banda, que entende não haver “verdade absoluta” quando se trata principalmente de música.


CONCORDAR OU DISCORDAR DO QUE FOI ESCRITO ACIMA FAZ PARTE DO PACOTE, AFINAL DE CONTAS DAQUI HÁ ALGUNS MESES/ANOS, É PROVÁVEL QUE EU OUÇA ESTE DISCO COM OUTROS OUVIDOS.

Nota 9,0

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