quarta-feira, 5 de abril de 2023

NERVOCHAOS – “ABLAZE” (2019)

 


Esta é uma banda que estava caminhando de vento em polpa com seu até então mais recente álbum, o glorioso “Nyctophilia”. Simplesmente um dos melhores álbuns de Death Metal de 2017. E como bem sabem o trágico falecimento da então guitarrista Cherry Taketani impediu que os “necrolovers” pudessem prosseguir com seu voo através desse grande trabalho. Porém, como a banda já é bastante calejada quanto às mudanças no line up, Edu Lane tratou de reformular o elenco mais uma vez. E não demorou muito para que iniciassem a gravação de um novo trabalho que viria a seguir.

Lançado dia 6 de junho via Hammerheart Records, este é o oitavo álbum dos paulistanos do Nervochaos, que foi gravado no Alpha Omega Studio em Blevio, Itália. O encarregado da produção, mixagem e masterização foi Alex Azzali. Já a capa foi criada por Régis “Norganest” Lant, através de sua empresa, a Ibex Designs e que também é vocalista do EnthronedEdu Lane e seus asseclas afiaram suas armas novamente para mais um full length buscando manter o padrão extremo a qual sempre propuseram executar. Ou seja, mesmo com a tragédia ocorrida em que culminou no desmanche da formação do penúltimo álbum citado acima, a horda seguiu seu caminho sombrio (no bom sentido, claro!) sem se abalar com o ocorrido a ponto de atrapalhar toda a jornada, embora uma morte repentina cause um impacto gigante. E em se tratando de Nervochaos, suas mudanças são sempre bem orquestradas e com propósitos claros. Agora vamos às canções para saber se animam ou fazer dormir os diabretes.

Já de início temos a instrumental “Necroccult” que catalisa aquela morbidez clássica do Death Metal com passagens densas altamente apropriadas para um álbum do Incantation, por exemplo. Em “Demonic Juggernaut” a bateria veloz de Edu dá as caras e pancadaria começa de vez no circuito infernal de feras possuídas por riffs cavernosos e insanos de Guiller e Diego, que também esbanjam toda sua ferocidade e blasfêmia ao recitar seus versos musicais. Faixa esta que recebeu um ótimo lyric video com trechos como este: “Possua a chama negra / Na chama fria e escura / Obsessão da chama negra / Devorado pela chama fria.” A próxima cantiga, nomeada “Feast Of Cain”, convida até o primeiro vampiro que deu origem aos demais cainitas que conhecemos através dos filmes e livros de RPG. Uma faixa que devido à sua levada se encaixaria facilmente no álbum anterior. Tal canção recebeu um videoclipe muito bem produzido e que tem tudo a ver com esse universo citado repleto de cenas envolventes de acordo com o enredo.

“Whisperer In Darkness” é a quarta marcha imperial do submundo que sussurra pela escuridão trazendo uma faixa típica para quem conhece a sonoridade do Nervochaos. Faixa que também recebeu um videoclipe trazendo mais aquela faceta clássica em preto e branco e que lembra em determinados momentos a clássica faixa “Total Satan”, do álbum “Battalions Of Hate” (2010), que por sinal é o meu favorito.  Em “Death Rites”, o início já entrega todo aquele suspense dos rituais mais macabros que possamos imaginar. Os ritos da morte tomam conta do certame fazendo jus ao tratado de governar o mundo tomando o trono do ser que carrega a luz, substituindo por trevas e muitos riffs maléficos característicos da horda brasileira que convida a um mosh extremo.

A também instrumental “Shamanic Possession” convoca os feiticeiros e adoradores de magia negra para se concentrarem para mais uma patada do bode preto colocando em destaque o que os holandeses do Pestilence costumam fazer em seus respectivos trabalhos. “Into Nightside” começa a todo vapor com uma faceta mais Thrash, trazendo um solo inicial e seguindo seu ritmo sem pisar no freio em momento algum. A mesma carrega consigo uma configuração muito caprichada para o baixo (tocado por Thiago Anduscias que à época fazia parte do time) colocando em evidência sem desequilibrar a linha sonora somando mais peso à trilha noturna. O tempo passa rápido e já estamos na oitava canção denominada “Cave Bestiam”, faixa esta que se inicia com uma fala e que logo deságua em mares de lava remetendo ao nobre Incantation e também Behemoth, mas que logo toma sua roupagem habitual com direito ao melhor solo do disco. Quase beirando um Asphyx na parte Doom da coisa. Podem-se encontrar muitas influências ótimas em cada passagem dessa e das outras canções. O que só vem a alavancar a qualidade do trabalho. Cave bestiam significa “cuidado com a besta” em latim, obviamente


“Dawn Of War” é mais uma faixa instrumental que remete o desprazer sob o amanhecer da guerra.  Já na emenda temos “Mors Indecepta” religando os motores e pisando fundo descendo ladeira abaixo pelas cordilheiras se arriscando nos penhascos mais desafiadores do submundo! Solos que entregam mais uma camada de excepcionalidade em meio a um caos sonoro lindo de se apreciar perante a morte indecepta“Stalker” é outra pedrada envolvendo o Thrash ao Death, ampliando o arsenal sonoro dos paulistanos e que não se cansam de apresentar petardos exemplares. Os efeitos das risadas maléficas casaram de forma excelente na música. E há quem diga que não existe banda boa no nosso Brasil… Isso é coisa de perseguidor!

“My Dues” chega cobrando todas as dívidas de acordo com o pacto de sangue lembrando em certos momentos os compatriotas do Claustrofobia“Downfall” revela o tamanho da queda daqueles que não compactuam com o poderio incinerador de seres mentecaptos e obtusos cravando o mastro do Death Metal no peito do divino.  Mais uma e última instrumental intitulada “A World Between Worlds” apresenta uma junção entre o maligno e misterioso com um dia comum em uma feira de antiguidades. “Walk Away” traz à tona novamente o tradicional Nervochaos praticando seu Death Metal característico com boas doses de Slayer no caminho, indo embora para o final do disco.

“Of Evil And Men” é a décima sexta faixa, incluindo as três instrumentais e fecha o disco, trazendo consigo mais um videoclipe num total de três. Coisa rara para uma banda de Metal Extremo, e todos eles muito bem filmados, gravados e produzidos. Por ser um clipe com muitas partes em primeira pessoa não me senti muito confortável ao assistir. Mas, isso não retira nada do que eu disse até aqui e é um exemplo para as bandas que estão dispostas a investir com seriedade no seu material audiovisual e todo o seu merchandising. Coisa que Edu Lane leva muito a sério e no próximo ano já entrariam em estúdio novamente para gravar mais um full length. Informação adquirida no canal Kazagastão em que o grande Gastão Moreira entrevista o próprio Edu (à época).


Como o adepto da boa música extrema pode ver, o álbum em questão apresenta um Nervochaos mais maduro e sem medo de seguir seu próprio rumo, apostando em composições diretas e afiadas, com o tempero de boas introduções que percorrem o disco. Tais introduções ao redor da bolacha trazem à mente álbuns como “Dante XXI” (2006) do Sepultura e também a fórmula de composição do Pestilence. Ao término do papiro musical, vemos que o Nervochaos está mais do que pronto para continuar devastando vilarejos e lares ortodoxos com seu grande arsenal sonoro. E que venha o novo disco em 2021!… E vieram vários e ótimos álbuns desde então.

Fonte: Mundometalbr.com

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