Antes de mais nada, é sempre bom ressaltar o vasto e esquecido celeiro que o Brasil é quando o assunto é sobre Heavy Metal. Certamente, por ser possuidor de uma área geográfica continental, as chances de surgirem mais bandas do que em um país de menor extensão são bem grandes. Entretanto, o espaço e as chances de prosperar são para poucos artistas. Assim sendo, os músicos estão sempre a buscar um lugar ao sol, mesmo que este sol não seja tão brilhante a ponto de fincar sua bandeira nas arestas do mainstream.
Surpreendentemente, você pode localizar bandas dos mais longínquos confins do país, todas com seus arsenais de guerra e prontas para encarar as batalhas de um músico em território hostil. Desse modo, podemos direcionar a bússola para o interior de São Paulo, mais precisamente entre Pindamonhangaba e Taubaté, aonde encontramos o Faces Of Death.
Assim, conforme fora dito em resenha de seu show recente, durante sua participação no Thrash disConcert, trata-se de uma banda mais antiga, mas que somente quem respira o ar carregado de fumaça de cigarro e madeira marcada com cerveja velha, é quem conhece. Sendo a princípio, formada em 1990. Além disso, nesse álbum em específico, a banda possuía outra formação a ser comentada ao longo dessa jornada escrita.
O SOM QUE O HEADBANGER GOSTA
Sua sonoridade encarrega o quarteto de trazer aquela boa e infalível mistura entre Slayer e Sepultura (dos tempos de glória). Bem como a junção de variações e breakdowns, beirando o som mais extremo.
O vocalista e guitarrista, Laurence Miranda, guia seus parceiros e aliados de batalha de encontro aos pesadelos vividos em sociedade através de suas poesias ríspidas e sangrentas. Certamente, vem a ser um verdadeiro banquete para os adeptos do Thrash Metal cercado por membranas do Death Metal.
De forma independente, o Faces Of Death reforçou sua história dentro da música pesada nacional com o lançamento de “Usurper Of Souls”, no dia 11 de novembro de 2020. Portanto, sendo o seu segundo e último trabalho de estúdio até então. A produção ficou a cargo de Friggi MadBeats.
RECONQUISTANDO O SEU ESPAÇO NO CENÁRIO UNDERGROUND
Primeiramente, devemos entender esse cenário como um espaço alcançável pela banda sem que pese a questão de reconhecimento total ou parcial da mesma, mas simplesmente pelo momento vivido pela banda.
De 1990 até 1997, a banda paulista teve um caminho árduo com poucos lançamentos e de menor expressão, sendo hoje cultuados pelos fãs. São duas demos: “Demo” (1994) e “Retrocession” (1996, lançado em fita cassete). Em 1997, a banda precisou encerrar suas atividades por conta da saída de um dos membros da banda, que se mudou para outra cidade.
Finalmente, após um intervalo no total de 19 anos, o exército infernal interiorano retomou o percurso, dando seguimento à jornada em 2015. Porém, somente em 2017 é que surge um lançamento inédito, sendo o EP “Consummatum Est”. Posteriormente, em 2018, veio o debut chamado “From Hell”, marcando toda uma volta por cima dos thrashers brasileiros.
Posto que o conglomerado do interior de São Paulo vive um ótimo momento, vamos aproveitar a energia boa dessa história para decifrar sobre essa nobre indicação intitulada…
…“USURPER OF SOULS”!
A abertura não poderia ser diferente e, ao tratar sobre homenagens a grandes canalhas do passado, a bola da vez é a figura do resto de explosão nuclear tido como Charles Manson, contido de maneira destacada na faixa-título.
Aqui é o lugar ideal na qual você pede por Thrash e receber altas doses de Thrash sem frescura e sem pestanejar. Se ao vivo, ela funciona muito bem, no disco ela também cumpre exemplarmente o seu papel, assim sendo digna de animar a plateia. Altamente indicada para os apreciadores dos trabalhos de Claustrofobia e Torture Squad, só para exemplificar.
O usurpador de almas espalha suas crias com velocidade imensurável e provoca a desgraça plena em várias famílias.
A lei, por sua vez, emplaca contra quem não faz muito ou quem não fez nada, enquanto o verdadeiro assassino ganha fama, é convidado especial de programas de TV e rádio, ganha biografia escrita e filmada, além de se tornar um ícone Pop. Este em 1969 ao mergulhar Hollywood em um mar de terror. Triste fim de Policarpo…
Em segundo lugar temos a presença de “Empty Minds” para manter o nível de alegria da festa. Já dizia o ditado: “mente vazia, oficina do diabo”, ou algo assim. Assim sendo, trata-se de um momento doentio que a sociedade atual vivencia através de atitudes impensadas e insensatas.
Portanto, provocando uma calamidade ativa e constante. Por causa das gratas nuances oferecidas pela música, podemos incluir um misto de Sepultura e Andralls, tanto nos vocais de Laurence Miranda, quando em seus riffs, além dos dedilhados, diferenciais e solos executados pelo também guitarrista Felipe Rodrigues.
FECHANDO A PRIMEIRA TRINCA DO ÁLBUM, CHEGA A VEZ DE “DEEP AGONY”…
A agonia profunda surge quando as esperanças se esvaem e você não enxerga qualquer saída ou solução para o caso.
Buscar ajuda se torna algo impossível, pois há um bloqueio tamanho na mente, que deixa o personagem da trama completamente perdido e sem chance de observar por outro ângulo, com o intuito de notar possíveis caminhos diferentes.
A sonoridade construída, revela uma receita que poderia ser muito bem aceita por Korzus e pelo próprio Slayer. Riffs que cortam os canos de ferro ao alinhar e montar as tubulações sonoras, como faca quente na manteiga.
Ao se aproximar do modelo mais cadenciado, o exercício se torna ainda mais interessante e o privilégio de ouvir os pulsares do contrabaixo de Sylvio Miranda são o tipo de honraria que o ouvinte merece receber. Os solos de guitarra promovidos por Felipe Rodrigues, tornam a canção mais encorpada, mantendo o pulso cada vez mais firme dentro do próprio álbum.
O MONSTRO… A DESGRAÇA CONHECIDA POR JOÃO DE DEUS
Quem leu a resenha sobre o show que contou com a participação do Faces Of Death, sabe muito bem sobre qual elemento essa música fala, assim retratando o falso médium como o verdadeiro monstro que é.
“Monster Medium” entra em cena com seu ritmo agressivo, suas variações instrumentais e vocálicas. Felipe Rodrigues comanda os riffs e solos poderosos, capazes de dissecar a alma do alvo da canção. O baixista Sylvio Miranda e pelo baterista Sidney Ramos complementam assertivamente a faixa, então.
Simples e direta em seu início, faz prevalecer toda a sua fúria entre versos e notas musicais. Contratempos de quebrar o queixo e alicerce sonoro em pauta para o melhor equilíbrio estrutural. O peso e a vibração do baixo tornam as coisas desagradáveis aos seres desprovidos de tímpanos de aço, juntamente com solos velozes e mais retilíneos, porém muito eficazes.
É pela fé ou pelo medo que o fiel cruza a estrada? Depende do padre. Depende da crença. Também depende da ovelha. E depende da besta…
É assim que “Faith Or Fear” apresenta suas armas. Para oferecer a liberdade de escolha ao devoto, caso esteja em dúvida sobre o seu segmento, o seu dogma, a sua prática predileta, o seu livre pensar.
Estamos diante de um dedilhado de violão propositalmente instaurado para quebrar o ritmo voraz da trama e também ambientar o ouvinte. Entretanto, não se trata de uma trégua e a pancadaria pede passagem novamente, somados aos efeitos harmônicos, que complementam a linha sonora pesada e rabugenta.
FERIDAS ABERTAS PELO FACES OF DEATH
Se com tanta violência sonora o acompanhante dessa jornada ainda não desmaiou, não será com os ferimentos expostos que a pessoa se dará por vencida.
Diante de “Open Wounds”, poder ser facilmente notado através dos primeiros acordes que formam a intro da canção. Com o formato feito em palhetadas para baixo, o single ganha destaque dentro do álbum e impõe ao ouvinte mais variações para que sejam conferidas com a devida atenção.
As partes mais velozes aparecem acompanhadas dos solos distorcidos e perversos a ponto de simpatizarem com toda a estrutura abrupta e densa. Enfim, as feridas são abertas com o mais puro ódio musical, sendo talvez o ponto mais alto deste full length.
O atirar de pedras como se ninguém tivesse o teto formado por vidros altamente frágeis, porém, sendo mantido sob o controle do ódio mais profundo e latente.
Em resumo, os julgamentos sem buscar informações reais e conclusivas se tornam a alma do negócio. Assim é mais fácil, pois quem grita primeiro parece ter total razão, já que o outro não rebateu o berro inicial.
MATAR… EM NOME DE UMA ENTIDADE PÍFIA?
Outra que foi apresentada em evento recente, foi “Killer… In The Name Of God”, com sua mescla de Thrash e Death perturbadora e com breves mudanças de andamento.
Logo após a canção anterior, o sinal da guerra é tocado para a sua apresentação de maneira crescente. Tal introdução combina perfeitamente com a obra e com o andamento do segundo disco dos caras.
As variantes são constantes nesse sentido, ditando o andamento formidável da obra. Por vezes veloz, chama atenção ao incorporar o lado visceral junto aos solos de guitarra. Porém, o destaque vai para o baterista Sidney Ramos, com seus pedais estridentes e seus pratos afiados.
Matar em nome de Deus é sempre a maior das desculpas esfarrapadas para poder provocar a morte de outrem de forma deliberada e sem qualquer tipo de punição mais severa.
INDO DE ENCONTRO A DOIS MÍSSEIS PORTÁTEIS
Em primeiro lugar ao contar apenas as duas últimas faixas, “Death Virus” dá as caras, espalhando toda a virose de 2020 e relembrando tempos sombrios recentes.
O início é esbanjado por pura raiva sonora através de um andamento alucinante, contendo bons blast beats. Entretanto, temos em algumas pausas um efeito como se as rédeas da carroça fossem puxadas para que os cavalos envoltos por chamas negras pudesse cavalgar de forma mais cautelosa. Vocal e solos enfatizam melhor a trama.
Na emenda constituinte temos “Warlord” para finalizar os trabalhos e oferecer ao honorável público uma apoteose digna de uma banda de Thrash Metal nacional de qualidade.
A abertura possui uma das linhas de guitarra com notas mais agudas, tornando a canção um pouco mais diferente das demais, embora o seu formato já a deixe com esse agradável aspecto. O riff principal é simples e ela é talvez a faixa que mais elementos de Metal tradicional carrega consigo.
CURIOSIDADES EXTREMAS E CONSIDERAÇÕES METÁLICAS FINAIS
“EM 2020, EM PLENA COVID 19, LANÇAM SEGUNDO ÁLBUM INTITULADO “USURPER OF SOULS”, LAURENCE MIRANDA (VOCAL E GUITARRA), FELIPE RODRIGUES (GUITARRA SOLO), SYLVIO MIRANDA (BAIXO) E SIDNEY RAMOS (BATERIA) APRESENTAM UM TRABALHO AINDA MAIS AGRESSIVO, MISTURANDO THRASH E DEATH METAL. O ÁLBUM FICOU ENTRE OS MELHORES DESTAQUES DO ANO.
EM 2022 OS MÚSICOS LUIZ AMADEUS (GUITARRA SOLO) E NIKO TEIXEIRA (BATERIA) SE JUNTARAM À BANDA PARA CONTINUAR EVOLUINDO PROFISSIONALMENTE SEM DEIXAR DE LADO A AGRESSIVIDADE E BRUTALIDADE.”
Essas são as informações encontradas junto ao videoclipe da faixa “Open Wounds”, destacando tanto o trabalho da formação que lançou o álbum, quanto aos novos integrantes que adentraram à casa.
De acordo com informações oficiais obtidas, durante a promoção do álbum, “Usurper Of Souls”, o Faces Of Death se manteve ativo e participou de diversos festivais online. Além disso, resolveu produzir uma live própria, “Live Rehearsal – A Drink With The Death”, vídeo que traz a performance da banda em uma sala de ensaio, mesclado a depoimentos dos integrantes. O material rendeu o lançamento de um álbum, segundo do grupo paulista durante o período de pandemia, que está agora disponível em sua versão física.
O BAIXISTA SYLVIO MIRANDA ACRESCENTOU:
“COMO TODAS AS BANDAS, CLARO QUE QUERÍAMOS TER FEITO MUITOS SHOWS PARA MOSTRAR ‘USURPER OF SOULS’ NOS PALCOS, MAS TRADUZIMOS ESTA VONTADE QUANDO NOS REUNIMOS NO AUDIO LAB EXTREME STUDIO, EM TAUBATÉ (SP).”
Em suma, o Faces Of Death aparenta viver o seu melhor momento, longe de precisar pausar suas atividades, assim como aconteceu no passado. Dessa forma, as pretensões só aumenta e a situação só tende a melhorar. “Usurper Of Souls” é uma grande prévia desse momento que tende a ser constante e evolutivo para a banda.
Caso você seja uma pessoa engajada quando o assunto é garimpar bandas de Metal, aqui está mais uma ótima opção para ampliar não apenas o seu conhecimento, mas a sua coleção de discos, inserindo esse álbum em sua estante.
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