Na era contemporânea a qual estamos inseridos, a maneira como nós enquanto indivíduos consumimos música mudou drasticamente desde o advento da internet na humanidade. Na data do lançamento de um álbum, EP ou single, agora virou uma necessidade de os musicistas ficarem de olho em seus celulares: necessidade esta tão natural quanto as funções do corpo humano, já que as notificações dos aplicativos moldaram um imediatismo dos feedbacks de seus novos sons, sendo bombardeados na velocidade de uma batida cardíaca
Definitivamente deve ter sido o caso da BLADES OF STEEL assim que "Riders of the Night" foi concebido ao mundo, no dia 25 de julho de 2025. No exato momento em que escrevo o que está diante de você, pode ser argumentado que ainda estamos na janela de lançamento da música em questão
Para não pularmos as formalidades: a BLADES OF STEEL (doravante conhecida como "BoS", exceto no encerramento) é a filha de Yara Haag, uma banda de Heavy Metal tradicional e um dos seus maiores desejos em vida, formada em 2022 em solo paulistano, com um trabalho realizado que remete à época da NWOBHM do final dos anos 70/começo dos anos 80, tendo aquele toque brasileiro para deixar a fórmula mais peculiar.
Em meados do ano passado até o início do corrente ano, a BoS lançou seus primeiros trabalhos na forma de singles (notadamente: a faixa-título "Blades of Steel", "Ruler of the Waves" e "Vengeance Is Mine", todas em 2024) na plataforma YouTube, assim como os principais serviços digitais de streaming. Tais trabalhos culminaram com o lançamento do álbum homônimo no final do último fevereiro, e a sua versão em mídia física recebeu uma festa dedicada na famosa casa de shows Hangar 110, localizada no epicentro da capital paulista, em 29 de março (nota do redator: a qual eu felizmente estive presente, representando o portal Road to Metal).
LIBERDADE COMO EXTENSÃO DO ESTADO EM MOVIMENTO
Tendo nascido em um período em que as redes sociais praticamente monopolizaram a maneira como as informações deste ramo são divulgadas, além do fantasma do algoritmo estar sempre à espreita como possível elemento de influência nas novas composições, foi causa para surpresa e êxtase ver que, além de não dever nada para bandas estrangeiras, o álbum é um passeio audível por alguns dos principais expoentes do gênero, como DIO, DORO e principalmente JUDAS PRIEST.
Não apenas isto, mas observando a estética artística que envolve a banda, os pormenores do visual são profundamente enraizados na veia da Alta Fantasia (que também é condição sine qua non no famoso gênero de videogame RPG), tendo a participação de Rafael Romanelli (quem realiza as tarefas de guitarra aqui também).
Avançando no tempo ao agora, isso nos leva a "Riders of the Night".
Com o envolvimento de Val Santos (VIPER, TOYSHOP, BRUTAL BREGA), o nível de produção recebeu uma melhora notável quando comparamos com o álbum autointitulado, reforçando o fato consumado de que possuímos profissionais que "trocam socos" no departamento da qualidade com profissionais de outros países (mesmo com quem tem mais tempo de estrada!).
Emergindo como uma imposição graciosa, seu nascimento é bem recente, e seu lançamento isolado faz com que um julgamento preciso seja considerado, no mínimo, equivocado. Como uma das regras não escritas do universo, o tempo é o senhor da razão: ele e somente ele julgará o impacto total de "Riders of the Night", e antes de tudo, a sua posição dentro do protocolo do próximo material da BoS, onde "Riders of the Night" encontrará o seu devido lugar.
O que fora apresentado acima me previne de entrar em tecnicalidades ou uma decisão definitiva. Isto, no entanto, não elimina a possibilidade de elaborar uma observação desta faixa na forma encontrada atualmente (ou ao menos uma tentativa disto), ciente de que alguma alteração poderá acontecer no futuro previsível.
O PERIGO PODE SER A MINHA KRYPTONITA, MAS SEM ELE, NÃO HÁ GRAÇA EM VIVER
Passada a etapa as formalidades e sem mais delongas: a maioria da formação vista no álbum se encontra aqui. O quinteto com o DNA do estado de São Paulo é formado por Yara Haag (vocalista, líder), Rafael Romanelli e Jonas Soares sendo o dueto das guitarras, Filipe Tonini nas obrigações do baixo e Bruno Carbonato (bateria). Só que há um "kinder ovo", por assim dizer: a participação mais do que especial de alguém que já fez por merecer em cravar o seu nome entre os principais do Metal nacional. Este alguém é Prika Amaral (conhecida pela poderosa NERVOSA). A aparição da convidada deixa o entendimento implícito de que "Riders of the Night" tem influências do gênero ao qual faz parte, e este palpite está tão correto quanto o fato de que o Sol nasce e se põe no mesmo dia.
Na longa vastidão que é a paisagem do Metal e as suas n variantes, um entusiasta poderia questionar que essa mescla de gêneros seria, talvez, um tanto quanto alienígena. Em uma reviravolta distorcida dos eventos, no entanto, elas encontraram abrigo neste ecossistema.
A experiência sônica é feita por um arranjo pesado na dupla de guitarras entregue por Rafael e Jonas. Um pouco atípico no começo, dada a composição ser diferente do padrão apresentado no álbum anterior. Dada que a essência estrutural das músicas favorece elementos mais medievais e heroicos, vemos a escrita dar boas-vindas a um sinal de agressão marcando presença. O ápice acontece após as guturais de Prika cortarem impiedosamente os canais auditivos com um solo inspirado onde o dueto aumenta o ritmo e bota pressão no ouvinte, levando a um estado de felicidade elevada com a redução imprevisível no ritmo, bem quando o refrão está para chutar os seus ouvidos uma vez mais.
Complementando a atmosfera, temos Filipe Tonini entregando linhas sólidas de baixo e desafiando uma prática comum que é ter o seu som sobrescrito por edições de pós-produção para dar mais valor ao timbre da guitarra. Felizmente, aqui não é o caso (o que é um parabéns à competência de Val Santos), em que o seu grave entra em união com o todo até quando um dos solos é executado.
Do outro lado do front, Bruno Cambonato se prontifica a ficar por trás do instrumento que dita o ritmo das canções: a bateria. Focado em uma pegada acima do "mid-tempo" comum, a batida mais Thrash fica bem óbvia, extraindo do ouvinte um headbanging mais constante do que do material prévio. É possível escutar cada componente do seu kit com uma precisão clara como o cristal, uma tendência seguida por todos os instrumentos em exibição, guiando os segmentos de maior "tranquilidade" (ou o mais próximo disto) e os que pedem uma abordagem mais brutal.
fonte.Whiplash.net
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