O Brasil é um país de dimensões continentais e olhares ambivalentes para a arte. Basta lembrar como há músicos de talento inegável nos mais variados estilos que fazem carreira no exterior, uma vez que, aqui, o artista nem sempre é tido como um trabalhador.
Desenhistas, pintores, escritores, dançarinos, escultores, cineastas, todos os que lidam com arte entendem esta relação de empurrar e aproximar que a nação da “ordem e progresso” estabelece com eles.
O Heavy Metal brasileiro vive desde sua origem até os dias atuais em um cenário assim, em uma espécie de gaiola cultural na qual é observado como algo exótico, para não dizer estranho e distante da identidade sonora tupiniquim que é tão heterogênea.
Claro que, a partir da década de 2000, mediante a popularização do Rock e do próprio Heavy Metal, ocorreram algumas melhorias que deixaram rastros nos nossos dias. Algumas emissoras de rádio e televisão falam de artistas relevantes do estilo, tocam algumas músicas nas suas programações e, nas redes sociais assim como nos sites, muitos e muitas divulgam bandas e artistas nacionais com entusiasmo e disciplina dignas de aplausos.
Se o Heavy Metal não é algo tão oculto assim, então as afirmações acima não seriam um contrassenso ingrato e/ou ressentido? A resposta é um sonoro NÃO que possui dois motivos bem interessantes e interligados, que reforçam o tipo de cárcere que o Metal brasileiro ainda habita.
O primeiro é o olhar ancestral e pouco alterado que a persona do Heavy Metal possui no Brasil e que não consegue ser ressignificado ( Por persona, vamos considerar uma identidade estereotipada).
Quando se fala em Metal, muitos pensam que esta forma de música é apenas peso, agressividade, barulho, vozes incompreensíveis e letras sinistras. O que é parte do Heavy Metal, mas que na terra de Tom Jobim é tido como uma representação estática para o todo.
O segundo motivo que é aumentado pela persona “má e desagradável” do Metal e que contínua se espalhar por aí é o fator idioma. Como diversas bandas nacionais de Metal cantam em inglês (Um misto de tradição e facilidade para conquistar mais mercados, afinal o Inglês é o Latim da nossa época), a pátria de Aleijadinho ainda manifesta estranheza a faixas que são cantadas em outro idioma que não o de Camões, apesar de que muito do nosso estilo de vida é uma imitação gritante dos países falantes da Língua Inglesa.
Por isso, bandas de Metal extremo ou de vertentes mais melódicas ainda fazem carreira em lugares em que o Metal é tratado de forma respeitosa e óbvia: Um estilo de música, dentre tantos outros.
Se a imagem ancestral é tida como algo hostil e a comunicação não ocorre facilmente, então é compreensível a condição underground perpétua em que o nosso Metal se encontra. Dos primeiros passos do Sepultura e Dorsal Atlântica, até o reconhecimento merecido de nomes como Tuatha de Danann, Lyria e Hamen, o Heavy Metal brasileiro ainda é olhado/tratado de forma paradoxal, pois não parece algo cordial e parte compreensível da nossa identidade artística e cultural.
Em resumo, as raízes da terra santa não parecem vigorosas o suficiente.
“Essa nota é originada de colaboração externa ao site Roadie Metal e não representa a opinião de seu grupo de redatores”
Fonte: Roadie-metal.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário