sábado, 17 de junho de 2023

ÁLBUNS INJUSTIÇADOS: SLAYER – DIABOLUS IN MUSICA (1998)

 


Não, vocês não leram errado. Sim, escolhi escrever sobre este disco pois como não sou um daqueles fãs mais puritanos, eu consigo facilmente entender a musicalidade do mesmo. É fato que “Diabolus In Musica” não é um clássico como “Hell Awaits” ou “Seasons In The Abyss”, ele não tem a brutalidade de “Reign In Blood” e tampouco, a rifferama de “South Of Heaven”, mas o disco não é ruim como muitos alegam. Lançado em 1998, a empreitada dos mestres do Thrash foi bem ousada e essa ousadia fez com que muitos fãs não entendessem o trabalho. Devemos começar pela época de lançamento, onde o movimento do Nu Metal começava a tomar de assalto a mídia mainstream, o Industrial tinha alguns nomes proeminentes e o Groove Metal estava há muito tempo consolidado.

   Foi neste cenário que Hanneman disse que estava tentando se inspirar para escrever um disco pesado, porém, nada o inspirava, então ele teve que “inventar as próprias merdas”, visão esta que antagoniza com a do baterista Paul Bostaph. Este segundo já considera esse o seu álbum favorito da banda por se tratar de um disco “experimental”. O título do trabalho faz referência ao termo “O Diabo na Música”, que é conhecido como trítono (uma dissonância musical proibida), que segundo sua mitologia era um intervalo musical sexual e que revelaria a face do capiroto em pessoa


Musicalmente, “Diabulus In Musica” é direcionado para a efervescência daquele momento, onde o Slayer não lançava nada inédito desde 1994 e, por mais que fossem a banda mais “bad-ass” da cena mainstream norte americana, acabaram absorvendo muito da sonoridade daqueles tempos. O Nu Metal contagiou muito pouco o processo de composição do disco, até por que as principais bandas do gênero ainda não haviam estourado completamente na cena, já o Groove com suas guitarras afinadas em tons mais baixos e o Metal Industrial com efeitos metalizados nos vocais de Tom Araya em algumas faixas, estes sim, registraram presença de maneira bem mais marcante e, até mesmo, abundante.

Tudo isso faz do registro algo desprezível? É claro que não, todos estes fatores são muito aceitáveis se o álbum for contextualizado na época em que foi lançado. Em 1998, praticamente não tínhamos bandas lançando álbuns de Thrash Metal, o estilo estava praticamente sepultado, não existia cena Thrash no final dos anos 90, esta é a realidade. É claro que o fãzete desvairado que começou a ouvir o Slayer depois de 2010, queria que os caras tivessem lançado “Reign In Blood Part II”, mas isso não ia rolar e todo mundo sabia disso. O Slayer precisava primeiro conseguir passar vivo artisticamente pelos anos 90 e, bem ou mal, eles fizeram isso conseguindo ser, inclusive, relevantes.


Obviamente, não dá para se enganar, “Diabolus In Musica” não traz aquele Thrash raiz dos primórdios, na verdade, não passa nem perto disso. Ele é um disco de Thrash, mas é totalmente experimental e carrega diversas influências de Industrial, além de muito Groove em todas as faixas. Se você não gosta, vá ouvir outro álbum dos caras, só faça o favor de não sair por aí dizendo que o Slayer gravou um disco de Nu Metal, pois neste caso serei obrigado a esfregar “Bitter Piece”, “Point”, “Scrum” e “In The Name Of God” na sua fuça!

Como já foi dito, a faixa introdutória é “Bitter Peace” e, nela, temos um Thrash vigoroso. Apesar da introdução pesadona e cheia de grooves, o andamento da composição é trabalhado em riffs rápidos e vocais odiosos. Uma música que facilmente poderia fazer parte de outros discos da banda. Seguindo um som matador, de longe temos o pior momento do álbum e a única faixa que realmente descamba para o famigerado Nu Metal“Death’s Head” é uma sequência de equívocos e soa como se o Korn tivesse tomado uns esteroides e ficado boladão. “Stain Of Mind” é a próxima e aqui falamos de uma boa composição, tanto que foi escolhida como “música de trabalho” do disco e foi tocada ao vivo não apenas nesta turnê, mas em diversas outras posteriores.




Ouvindo “Overt Enemy”, você se pergunta quem em sã consciência introduziria algo assim em um de seus lançamentos, mas aí você se lembra que se trata de um disco experimental do Slayer. Aqui temos uma veia industrial bastante explícita, mas o instrumental denso e obscuro não faz feio, os vocais de Tom aparecem com alguns efeitos metalizados, mas ainda assim, do meio para o final, quando o peso característico aparece e o Thrash dá as caras a música cresce bastante. “Perversions of Pain” emerge na audição e, sim, esta é realmente uma boa composição. O riff principal possui muita força e velocidade e lembra bastante a fase clássica da banda.

Em “Love To Hate” temos novamente uma faixa de gosto bastante duvidoso e, apesar de não ser tão descarada quanto “Death’s Head”, nos faz sentir calafrios. Bisonha e esquecível, próxima! “Desire” inicia com alguns dedilhados, depois toma forma e se apresenta como uma das mais experimentais do álbum. Traz diversos ritmos, diversos tipos de vocais e, mesmo com toda sua excentricidade, acaba agradando. “In The Name Of God” possui uma atmosfera mais Groove em seu início, cadenciada e pesada, ficaria ainda melhor com uma mãozinha do saudoso Dimebag Darrell. A faixa se transforma do meio pro final e vai acelerando aos poucos pra explodir em fúria no final com os famigerados versos de “Antichrist is the name of God, Antichrist is the name of God…”. Facilmente uma das melhores músicas do disco.


“Scrum”, apesar de possuir um início meio caótico e, até mesmo, perdidão, assume um andamento rápido e visceral trazendo o velho Slayer a tona mais uma vez. “Screaming From The Sky” antagoniza com a composição anterior e aqui temos o Groove Metal em sua essência, cadenciada e com diversas caídas e retomadas rítmicas, não chega a incomodar de verdade, mas se não estivesse no tracklist não faria falta. Para finalizar o compacto, ouvimos a excelente “Point”, que assim como a canção de abertura, após uma introdução mais cadenciada, parte para o Thrash violento e agressivo.

Como já foi mencionado, é preciso levar em consideração o momento em que este álbum foi lançado e todas as circunstâncias que fizeram o Thrash Metal praticamente deixar de existir nos anos 90. O Slayer realmente fugiu de algumas características importantes que sempre marcaram sua musicalidade, porém, era o que tinha para aquela época. É inegável que os fãs prefeririam um álbum mais rápido, com menos groove e menos experimentalismo, mas naquele momento, se tivessem feito isso, provavelmente teriam sido ignorados como o Sodom foi. O disco em si é muito longe de ser ruim e, se fosse tratado como um projeto paralelo, seria até aclamado.


Lançar sob o nome Slayer pesou para a má fama do registro e, querendo ou não, marcou negativamente a discografia quase impecável da banda. O fato sumário aqui é, os caras sempre foram muito bem sucedidos tocando Thrash Metal e quando resolveram experimentar e flutuar por outros estilos, por mais que a derrapada não tenha sido tão grave e apenas duas músicas tenham pendido para o lado do famigerado Nu Metal, grande parte dos fãs ignoram o conteúdo que diz respeito as outras nove composições e “Diabolus In Musica”, injustamente, ficou maculado como o “álbum de Nu Metal do Slayer“.

 Por fim, levando em consideração a musicalidade do disco e os envolvidos, posso concluir que trata-se de um trabalho bastante aceitável e, até mesmo, muito razoável para a época em que foi concebido. Não é empolgante ou inspirado quanto os demais clássicos da discografia, porém, está muito longe de ser a lata de lixo que muitos pregam.

Fonte: Mundometalbr.com

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