Sob a batuta de Demonaz, o Immortal honra seu significado e apresenta seu mais novo álbum!
Muitas bandas acabam tendo fortes embates diante dos tribunais por vários motivos, dentre eles os direitos quanto ao nome da banda e também referente às composições. Grande parte acaba emperrando na justiça e ninguém consegue utilizar as partes ligadas a ela.
Em contrapartida, outras acabam ficando sob custódia de um ou mais integrantes, enquanto a parte derrotada, seja temporariamente ou em definitivo, decide por criar uma outra banda, quase que como um clone da banda original, e que por vezes acaba rivalizando com o trabalho do detentor do nome original, vide os casos de Venom Inc. e Entombed AD, como dois dos vários exemplos existentes. O caso do Immortal acabou não resultando em um segundo Immortal.
Os direitos da banda estão nas mãos de Demonaz, membro fundador, e este faz questão de levar a tradicional horda do Metal Negro adiante.
Sobre os problemas quanto aos direitos do nome da banda, a batalha judicial começou em 2014, quando Abbath ficou contrário ao Demonaz e também ao Horgh. A alegação foi que os dois músicos abandonaram o barco depois da retirada do seu equipamento do espaço de ensaio. A justiça local concedeu direito ao dois junto ao nome da banda.
Porém, há quatro anos, de acordo com o site noruegues VG, surgiu um novo conflito envolvendo o Immortal. Após Demonaz registrar o nome da banda no Escritório de Patentes da Noruega como marca exclusiva em 2019, Horgh tratou de entrar na justiça e a causa foi decretada a seu favor. Desse modo, Demonaz havia perdido o direito de usar o nome de forma exclusiva.
CONFIRA O QUE HARALD “DEMONAZ” NÆVDAL REVELOU AO SITE CHAOSZINE:
“TIVEMOS ALGUMAS DISPUTAS E JÁ HOUVE PROBLEMAS EM 2014 COM ISSO. MAS TUDO ESTÁ RESOLVIDO AGORA. NÃO POSSO DIZER A VOCÊ OS DETALHES PORQUE HÁ UM ACORDO EM VIGOR NOS IMPEDINDO DE DISCUTI-LO PUBLICAMENTE. EU TENHO UMA BANDA HÁ MAIS DE 30 ANOS, ENTÃO É IMPOSSÍVEL NÃO PERDER ALGUNS MEMBROS OU TER ACORDOS POR TANTO TEMPO. ACHO QUE TODA BANDA QUE DURA MAIS DE 20 OU 30 ANOS ACONTECERÁ O MESMO… NEM TODO CASAMENTO É UM CASAMENTO FELIZ. JÁ FAZ ALGUM TEMPO DESDE QUE TIVEMOS CONTATO. ENTÃO ISSO É NATURAL, EU ACHO. ELES ESTÃO OCUPADOS COM SUAS COISAS E EU ESTOU OCUPADO COM MINHAS COISAS. NÃO É COMO NOS VELHOS TEMPOS, QUANDO NOS ENCONTRÁVAMOS COM MUITA FREQUÊNCIA. MAS PARA MIM, É COMO SE NÃO HOUVESSE AMARGURA. EU SEGUI EM FRENTE E ELES SEGUIRAM EM FRENTE.”
Mesmo sem a presença de Abbath, que por sua vez, lançou seu projeto solo e autointitulado, se consolidando e encontrando liberdade para expor suas ideias musicais à sua maneira, já com três discos na prateleira, Demonaz possui carreira solo, mas optou por manter a chama do Immortal acesa, o que é muito importante para o cenário da música extrema. O trabalho anterior acabou não transcendendo muito e mal é comentado hoje em dia. Vale lembrar que seu nome é “Northern Chaos Gods” e foi lançado em 2018.
Agora, com um nome bem sugestivo, “War Against All” chega com a missão de resgatar os grandes momentos do esporte satânico sonoro e conta com as ilustres presenças do baixista Ice Dale (também conhecido como Arve Isdal do Enslaved), que também contribuiu com linhas de guitarra adicionais, e do baterista Kevin Kvale (Horizon Ablaze) como músicos contratados.
O décimo álbum de estúdio do Immortal aponta para o norte e carrega o característico ar gélido norueguês. Para essa nova missão foram construídas oito canções em um total de pouco mais de 35 minutos de duração, o que muitos consideram como o ideal ou próximo do ideal para um full length.
DITO ISSO, VAMOS EMBARCAR NESSA VIAGEM GLACIAL E VERIFICAR OS PRINCIPAIS PONTOS DESSE NOVO TRABALHO COMPOSTO EM SUA TOTALIDADE POR DEMONAZ.
Sem segredo nenhum, temos em “War Against All”, faixa que leva o nome do disco, uma abertura direta ao ponto e sem maiores novidades quanto à sua estrutura sonora. Seus versos relatam uma épica e intensa guerra, envolvendo os deuses dos deuses sob o céu vermelho-sangue com homens morrendo sob as encostas das montanhas. Riffs congelantes exaltam o reino das trevas, ou melhor dizendo: Blashyrkh.
EM UM BREVE RESUMO NAS PALAVRAS DE DEMONAZ, BLASHYRKH SIGNIFICA:
“O REINO DE TODAS AS TREVAS E FRIO.”
Inegavelmente para Demonaz, os primeiros anos do Black Metal são os que mais o inspiram. Isso é subitamente demonstrado aqui, ademais, com toda a estrutura de um Black Metal visceral sem aquela pompa melódica, apenas riffs afiados e diretos, bateria como uma locomotiva a todo vapor e baixo que funciona como uma parede de concreto de secagem rápida para deixar o alicerce bastante firme. Demonaz possui artimanha do estilo e demonstra tranquilidade ao lidar com o estilo que o colocou no mapa da mina da música extrema, além dos solos muito bem inseridos na trama.
Sob a encosta negra da montanha, “No Sun”. O céu é sempre negro, primordialmente sobrepondo a lua cheia. O vento frio e a neve congelante são seus acompanhantes nessa viagem. A sonoridade envolve a tropa com seu dedilhado gélido e ardente por consequência da baixa temperatura, causando queimaduras nos seres de alma apodrecida por causa de suas crenças malditas. Trata-se de um típico riff de Black Metal em que se repete e se molda para que fique mais denso nos momentos específicos, enquanto baixo e bateria acompanham toda a trajetória sem danificar o compasso com algo fora do esquadro.
Contudo, no momento em que a sustentação das notas se faz presente, fica nítida a resistência e o empenho necessário para tocar esse pantanoso estilo. Assim, representante da mensagem sem a presença da luz solar, a canção muda seu tráfego ao passar pelo solo petrificado e coberto por neve próxima de seu fim. Sem sol no horizonte, estrelas frias seguram o céu, assim como pregos feitos de estalactites, prendendo o forro escuro no teto.
“Return To Cold” marca a representação de Blashyrkh como uma casa, apesar de sempre fria e silenciosa, uma boa moradia para um guerreiro em batalha eterna. Em resumo, baixo em forma de inverno e neve, geada de riffs de guitarra e luz do norte acesa pela incessante bateria, fazem da canção uma quase continuação de sua antecessora através dos acordes parecidos.
Há uma pausa muito bem elaborada, o que traz mais vitalidade para a música, mesmo que ela seguindo por uma caminhada com velocímetro na média. O prato de ataque é utilizado a fim de intensificar cada golpe que a horda desfere nos tímpanos já congelados pelo tradicional Black Metal oriundo de Os/Bergen, Vestland.
“Norlandihr” é um tema instrumental com notas em forma de partículas de gelo em seu início. O comboio de notas calmas segue até que o exército de vida eterna chegue com seu armamento amplamente pesado para devastar o território inimigo e contar a história por todos os lugares que conquistou ao longo do tempo. Um novo dedilhado é desferido e abre espaço para a comitiva dar sequência ao seu percurso, dessa vez com as guitarras seguindo por caminhos diferentes até se encontrarem no fim de cada túnel.
Os solos surgem para colocar os mercadores do inferno diante do brilho lunar sob o céu enegrecido pelos demônios que habitam nos arredores de cada acorde contrário feito. O baixo surge de modo isolado e mostra-se com as cordas cheias de neve, de acordo com sua distorção. A cavalaria prossegue… São pouco mais de sete minutos de emoção, espinha congelada e alma vibrando com a aurora boreal que paira nos céus ao anoitecer cintilante. Vale destacar os contratados, Kevin Kvåle para conduzir o kit macabro e Arve Isdal (ou Ice Dale, você decide) para manter o prumo através do baixo e ditar o ritmo de clima escandinavo com o ar rarefeito das alturas montanhosas.
Entronizada na mente do autor, a luz da lua fortalece a tempestade que levou sua alma. Está vivo, atemporal e forte. Por conta da energia sombria e escura, e seu espírito de gelo, ele está e é “Immortal”. O inverno nunca morre para o homem do norte montado em seu cavalo. Seu sangue congelado ferve ao ver um mar de espadas do outro lado do mar. O guerreiro imortal é movido pela conquista e pela defesa da terra fria e também é tido como um morto-vivo pelos céticos.
Seu som reflete diretamente no que Demonaz planejou para o disco. Sem uma introdução, a canção começa bem direta e os riffs mudam o ritmo em contraste com o momento, seja uma emenda de estrofe, ou ponte para o refrão, lá estão as mudanças sutis, mas sem mudar o rumo da prosa. O lance é tocar Black Metal de acordo com o aquilo que representa o estilo representa de fato.
A diferença está na produção, que é bem equilibrada e dá ênfase a todos os instrumentos, assim como as linhas de voz. A pausa somente com as guitarras esbravejando suas notas rasgadas como cortes de esmeril, enriquecem a faixa, tirando-a do modo comum e completamente simples. A simplicidade fica por conta das poucas variações e do mesmo modo constante de levada, contudo, se observar a bateria e o baixo. Afinal, isso é ruim? Jamais! É gratificante ouvir sonoridade mais crua, mesmo que não seja absolutamente crua. No desfecho final, o trono é reivindicado e as florestas são despedaçadas ao som dos guerreiros. Ninguém governa sob o céu e os dias caem para todos os filhos.
Sob um pálido sol, exércitos de noruegueses marcharam montanhas adentro para ressuscitar o orgulho e a honra de outrora. Escuridão, frio e lua de inverno, estas são características que formam o trono, “Blashyrkh My Throne”, o trono do norte. Sabe aquelas notas congelantes de outras ocasiões no disco? Aqui elas se mostram além de congelantes, bastante melancólicas também. O inverno rigoroso atinge em cheio cada instrumento, os tornando armas da neve contínua. Demonaz está em casa e quer de uma vez por todas o seu trono em Blashyrkh. Com uma linha de bateria mais cadenciada, é apresentado aquele Black Metal com notas dissonantes e levada mais calma, sem perder peso.
Arranjos de guitarra aparecem em meio ao silêncio dos outros equipamentos, mas apenas por pouco tempo. Logo o andaime montado para sustentar as paredes musicais surge para fortalecer a obra e oferecer aos vocais rasgados uma camada de proteção rígida. Mais um dedilhado solitário e toda a horda reaparece para colocar duas linhas de guitarra, sempre com uma melodia entristecida a mais em apoio às graves bases principais. O final é completamente direto como o começo da trama. Simplesmente acaba e não diz mais nada.
INFORMAÇÕES SOMBRIAS, CONCLUSÕES NEFASTAS E CURIOSIDADES CALAMITOSAS ADICIONAIS:
Lançado no dia 26 de maio via Nuclear Blast, o novo álbum apresenta uma receita voltada para o simples, mas sem soar primitivo e sem explorar muito o lado melódico. Pode trocar por melancólico e hostil, mas tranquilo de se ouvir. A ideia fica clara desde o início e mostra o Immortal em um caminho sem tantas variações dentro de cada canção, mas com alternâncias entre elas. Portanto, não é um álbum reto nem quadrado. É um álbum direto e com camadas que permeiam as faixas e as colocam em um modelo parecido com o que é feito no Besatt e no Dark Funeral.
Sobre Blashyrkh, sua origem vem de um reino mitológico localizado no cume de uma montanha, conforme descrito como “muito acima de ravengate” em relação à sua localização. Sua paisagem remete a uma região rústica e povoada por montanhas antigas, bosques misteriosos e arrepiantes, com efeito causado pelo grito dos corvos. Esse tema pode ser encontrado com mais detalhes em uma das clássicas canções do Immortal, essa mesmo que você pensou e disse pra si mesmo (a)! “Blashyrkh (Mighty Ravendark)”, última faixa do 3º álbum, “Battle In The North” (1995), contém o retrato da cidadela cercada por corvos que contornam os portões, ao mesmo tempo em que são cercados por demônios. Lá predominam os legítimos reis dos salões mais altos, então você pode conferir a fundo através do álbum citado.
NÉVOA EM FORMA DE FICHA TÉCNICA:
Produzido e gravado no Conclave & Earshot Studio por Arve Isdal (Ice Dale), tendo a parceria de Herbrand Larsen na gravação, Iver Sandøy cuidou da masterização no Solslottet, enquanto Håkon Grav foi o encarregado para elaborar o layout. A arte da capa recebeu a assinatura de Mattias Frisk.
“I AM IMMORTAL, MY SPIRIT OF ICE
MY BLOOD IS FROZEN, I DWELL IN THE COLD
MY FIRE COME FROM THE MOON
AND MY EYES STARE INTO THE GLOOM”
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