sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

As denúncias de abuso de Sonia Anúbis contra a banda Burning Witches e a face oculta da indústria musical

 

As recentes declarações da guitarrista Sonia Anúbis abriram uma discussão necessária sobre a forma como artistas continuam sendo tratados nos bastidores da indústria da música. Durante uma sessão de perguntas e respostas em seu Instagram, ela relatou que sua saída do Burning Witches ocorreu em circunstâncias que qualificou como abusivas e exploratórias. Segundo afirmou, “eu nunca fui paga pelo Burning Witches como membro oficial e nunca soube a razão”. Tal comentário deu início a uma série de revelações que escancaram práticas antigas e recorrentes.

Conforme detalhou seus relatos, Sonia revelou episódios de controle e imposição que ultrapassavam questões profissionais. Entre os exemplos citados, ela destacou: “eu não tinha permissão para me apresentar sem maquiagem; o empresário delas dizia que eu ficava feia sem ela” e “eu era proibida de dar entrevistas porque diziam ser ruim falar das minhas influências”. Essas restrições mostram uma dinâmica de trabalho marcada por arbitrariedades e ausência de autonomia criativa.

Além disso, a guitarrista relatou comportamentos que, segundo ela, extrapolaram o limite do aceitável: “eu era tratada de uma forma muito rude e ofensiva – ao ponto de passar muitos momentos chorando nos bastidores”. Em seu relato, também mencionou impedimentos profissionais, como não poder usar seu próprio nome artístico ou receber por gravações de álbuns dos quais participou. Esses episódios reforçam a distância entre a imagem pública da banda e o que, de fato, acontecia por trás do palco.

A Estrutura que Permite o Abuso

O caso relatado por Sonia Anúbis não representa um fenômeno isolado, mas sim um sintoma de um mecanismo maior. A indústria musical, historicamente marcada por contratos nebulosos, empresários oportunistas e relações assimétricas de poder, continua permitindo que situações de exploração se repitam. A guitarrista afirma, “cada parte única que me fazia brilhar era uma ameaça para elas – sempre encontravam um jeito de me quebrar e me diminuir”. E esta é uma declaração que constata como a pressão psicológica também integra esse ambiente.

A popularização das redes sociais tornou mais fácil expor esse tipo de dinâmica, já que artistas podem falar diretamente ao público sem depender de intermediários. No entanto, apesar da rapidez com que tais relatos viralizam, pouco muda na estrutura que os permite. Sonia afirmou que ainda hoje lida com os efeitos da experiência: “estou lutando diariamente para recuperar isso. E eu vou à terapia por isso”. O fato de buscar tratamento mostra a profundidade das consequências deixadas por um ambiente profissional disfuncional.

Quando perguntada se sua vivência seria comparável aos recentes acontecimentos envolvendo a banda Dogma, Sonia foi categórica: Burning Witches é pior. As integrantes do Dogma ao menos foram pagas e tinham um contrato… Eu não tinha nada”. Segundo ela, sua única posse era “uma guitarra Jackson que comprei com o dinheiro que juntei do meu trabalho de desenvolvedora web e uma quantidade infinita de paixão e motivação”. O contraste entre dedicação pessoal e ausência de retorno evidencia uma relação de exploração direta, segundo ela.


Um Problema Antigo em Novos Holofotes

Esses relatos expõem mais uma camada de uma indústria que, apesar de glamurizada, funciona de m

aneira frequentemente predatória. A própria guitarrista resumiu sua visão ao afirmar: “isso não era uma banda ‘novata’ que ‘não tem como pagar’. Isso era uma banda corrupta que trata músicos sensíveis como lixo”. A contundência da frase revela que, para além de conflitos internos, existe um sistema que permite e normaliza esse tipo de conduta.

No fim, o caso de Sonia Anúbis reforça que a música, mesmo cercada por discursos de criatividade e paixão, continua dependendo de engrenagens movidas por interesses, vaidades e má fé. E embora a exposição pública dessas situações gere discussões momentâneas, poucas medidas concretas impedem que episódios semelhantes se repitam. Assim, permanece a constatação de que a roda da indústria gira independentemente das vítimas que deixa pelo caminho — e de que a verdade só vem à tona quando alguém decide romper o silêncio.



A passagem de Sonia na Crypta

Nos momentos finais da sessão de perguntas, Sonia também foi questionada sobre sua passagem pela banda brasileira Crypta, e seu relato apresentou um contraste absoluto em relação ao que viveu no Burning Witches. A guitarrista afirmou que a Crypta foi a banda mais profissional com a qual já trabalhou, dizendo que suas integrantes “trabalham duro, são inspiradoras e extremamente talentosas”. Sonia explicou ainda que deixou o grupo não por conflitos internos, mas porque sentiu que não estava pronta, já que sua experiência anterior havia danificado algo dentro dela.

Apesar de sua saída precoce, Sonia afirmou sentir orgulho de ter sido uma das fundadoras da Crypta e de ter gravado o primeiro álbum da banda. Ela reforçou seu respeito pelo profissionalismo do grupo e pediu aos fãs que continuem apoiando a banda sempre. Esses comentários mostram que, em meio a ambientes conflituosos, também existem experiências positivas que demonstram como uma banda pode operar com seriedade, organização e respeito.



Fonte: Mundometalbr.com

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