sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Nergal demonstra preocupação sobre futuro do Metal: “Não sei o que é Parkway Drive. Não sei o que é Avenged Sevenfold. Eu não sei — quem é Sleep Token?”

 

A recente reflexão de Nergal, líder do Behemoth, ao portal australiano Jaimunji, reacendeu um debate necessário sobre o futuro do Heavy Metal e o fim inevitável da era dos medalhões. Em entrevistas recentes, o músico apontou que nomes gigantes do gênero — como Guns N’ RosesAC/DCMetallica e Iron Maiden — estão se aproximando de uma fase de encerramento, seja pela idade, seja pela longa trajetória que já entregou décadas de história.

Segundo ele, esse esvaziamento do panteão clássico abre um vazio difícil de preencher, sobretudo quando observa a ascensão de novas bandas que, embora enormes, não dialogam com o DNA sonoro que moldou tantos fãs pelo mundo. Nergal argumenta que grupos contemporâneos capazes de lotar arenas, como Parkway DriveAvenged Sevenfold e Sleep Token, não despertam a mesma conexão estética que caracterizou as lendas do passado.

Ele não critica a competência dessas bandas, reconhece suas produções grandiosas e o mérito de conquistarem o mainstream, mas revela que simplesmente não encontra nelas a mesma essência que o fez se apaixonar pelo metal tradicional. A partir dessa constatação, podemos questionar para onde irão os fãs que buscam visceralidade, força e identidade artística quando os medalhões deixarem os palcos.

Além disso, o problema não está em haver novas bandas enormes — algo que ele próprio considera fundamental para a renovação do público —, mas na distância que essas bandas mantêm das sonoridades mais clássicas. A porta de entrada precisa existir, mas deveria servir como uma ponte para universos musicais mais autorais e profundos. Quando essa ponte não se constrói, surge o receio de que uma geração inteira não entenda o que tornou o Metal um fenômeno cultural duradouro.


O Novo Mainstream e o Risco da Desconexão

Essa reflexão ganha ainda mais peso quando consideramos o impacto das bandas do novo mainstream na formação dos ouvintes iniciantes. Fãs que chegam ao metal por meio de grupos como Sleep Token ou Avenged Sevenfold podem, naturalmente, trilhar caminhos distintos daqueles percorridos por quem descobriu o gênero com Black SabbathJudas Priest ou Slayer. A questão levantada por Nergal é se essa trilha moderna realmente leva às raízes ou se termina em um universo estilístico paralelo.

Enquanto isso, o próprio Nergal avalia os próximos anos do Behemoth com lucidez. Aos 48 anos, ele reconhece o desgaste físico exigido pelo Black Metal e pelo Death Metal, estilos que demandam energia muito superior. Ainda assim, ele afirma que sua banda vive um momento de plena maturidade artística, capaz de entregar shows intensos e coerentes com o legado construído. Mesmo assim, ele projeta apenas mais uma década de atividade intensa antes de considerar o encerramento.

Essa entrega total à sua própria identidade contrasta diretamente com o ponto levantado por Nergal. Afinal, não basta existir um novo mainstream; é preciso que ele dialogue com a essência do gênero que pretende representar. No fim das contas, a preocupação de Nergal não é com o sucesso alheio, mas com a continuidade cultural do Heavy Metal.

A renovação precisa acontecer, e bandas modernas devem, sim, ocupar arenas e atrair novos públicos — caso contrário, o gênero se torna estagnado. No entanto, quando essa renovação se distancia demais das sonoridades que fundamentaram o movimento, surge uma dúvida inevitável. Será que os novos fãs conseguirão compreender, valorizar e perpetuar o metal clássico? A resposta ainda está sendo construída, mas o debate, sem dúvida, já começou.


Veja a declaração de Nergal completa:

“Toda vez que o Guns N’ Roses está na cidade, eu me animo e sempre vou conferir. Com todas essas bandas históricas, seja o Guns, seja o AC/DC, seja o fucking MetallicaIron Maiden, antes de tudo eu sou fã da música deles. Eu coleciono os discos deles. Eu sempre fui fã [dessas bandas], pelo que me lembro. E eu sempre digo para quem quer que eu converse: cara, vá ver essas bandas. Compre ingressos e vá vê-las tocar, porque o tempo está voando. E num piscar de olhos o Metallica não vai mais estar aí, o fucking Maiden não vai mais estar aí. E você vai pensar: ‘Ah, merda. Eu deveria ter ido vê-los.’ É, você deveria mesmo. Então, toda vez que essas bandas passam pela Polônia ou por onde quer que eu esteja, eu vou lá e aproveito, porque essa era está chegando ao fim.”

Ele continuou:
“Vai durar mais alguns anos, espero que bons anos para essas bandas mencionadas e outras — existem mais, mas cada vez menos. A lista das grandes bandas de rock de arena que eu admiro está diminuindo. Quero dizer, eu sei que o Parkway Drive provavelmente é uma banda de arena agora, mas isso não significa nada para mim. Eu não sei o que é Parkway Drive. Eu não sei o que é Avenged Sevenfold. Eu não sei — quem é Sleep Token? Isso não sou eu. Não faz parte do meu DNA. Quero dizer, eu simplesmente não entendo. Provavelmente é boa música. Tudo é bem tocado, grandes produções e tal, mas quando esses gigantes deixarem a terra, saírem do palco, digamos assim — eu fico sozinho. Não tenho para onde ir.”

Olhando para o futuro, Nergal falou sobre o futuro do Behemoth e a possibilidade de sua banda continuar quando ele estiver perto dos 70 anos. Ele disse:
“Tenho apenas 48 anos. Mas, por outro lado, o metal extremo não é realmente heavy metal. É, de certo modo. É uma forma de heavy metal, só que turbinado. Obviamente exige muito mais energia e resistência e vitalidade física, ou como você quiser chamar. E não é fácil. Não está ficando mais fácil.”

“[Na próxima turnê australiana], vocês verão o Behemoth em seu auge, o que significa que sabemos exatamente como fazer. Sabemos como equilibrar nosso potencial físico ao longo do set. E ainda conseguimos fazer um show de 75 minutos que é muito dinâmico e intenso, e você não vai ficar entediado. Você não vai pensar: ‘É uma banda de death ou black metal old-school só tirando vantagem do próprio legado.’ Não, não — nós colocamos toda a força ali, estamos totalmente entregues.”

“Quando olho para bandas — sei lá — como o Klaus Meine do Scorpions, o cara tem quase 80 anos, acrescentou Nergal. “Ei, minha mãe faz 80 anos este ano, acho, ou 79. E o cara, ele está bem. Ele mal anda [no palco], mas a voz dele está fucking impecável. E eu penso: ‘Caralho.’ Eu tenho 48, e fico contando. Tenho 32 anos pela frente. Sem chance! Mas, enfim, você nunca sabe. Mas eu diria mais uns 10 anos. Dez bons anos de turnês e talvez fazer outro disco, mesmo que eu esteja questionando o sentido de gravar música nova. Quem caralho liga para música nova hoje em dia? Mas, de qualquer forma, acho que o Behemoth ainda tem pelo menos uns bons 10 anos, e estamos muito ansiosos para voltar aí [à Austrália].”


Fonte: Mundometalbr.com 

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