Antes de irmos direto ao assunto, gostaria de adaptar e fazer um breve paralelo a um sucinto parágrafo escrito pelo conterrâneo do nanquim digital, Sr. Stephan Giuliano :
“O OBITUARY POSSUI DUAS ALCUNHAS DISTINTAS: A DE SER UMA DAS BANDAS MAIS IMPORTANTES E INFLUENTES DO DEATH METAL MUNDIAL E A DE SER UMA BANDA RETA, DO TIPO QUE LANÇA DISCOS IGUAIS COM MÚSICAS POSSUINDO O MESMO FORMATO. ISSO PODE SER DITO POR QUEM NÃO APRECIA TAIS OBRAS, MAS NÃO PODE SER TRATADA COMO UMA ASNEIRA DESCOMUNAL POR QUEM É FÔ
Uma descrição muito bem apropriada, a diferença é que o Sr. Giuliano se referia ao Krisiun e ao Metal nacional, especificamente, e me chamou muita atenção desde então, pois o Obituary se encaixa perfeitamente nesses critérios.
Lançado oficialmente no dia 13 de janeiro, via Relapse Records,“Dying of Everything” marca nada menos que o 11º álbum de estúdio dos veteranos do Death Metal, Obituary, e uma verdadeiro petardo recheado de auto indulgência e violência sonora.
É interessante pensarmos como o Obituary estabeleceu de vez sua sonoridade, logo em sua primeira trinca inicial composta pelos clássicos “Slowly We Rot”(1989), “Cause of Death” (1990) e “The End Complete” (1992)
Todos os aspectos principais como os arranjos, levadas, grunhidos, berros de desespero e é claro, os riffs amaldiçoados no fogo do inferno, foram todos oficializados e definidos nesta trinca e são características associadas a banda de imediato. Consequentemente, tudo que veio nos anos posteriores, ou reciclava tudo novamente, ou buscava ser uma sequência direta dessa trinca de ases.
MAS ISSO É ALGO NEGATIVO OU CONTRAPRODUCENTE ?
Bem, isso é evidentemente algo subjetivo, mas deixando claro que este que vos escreve não considera algo negativo de maneira alguma…Mas, por quê ? Simplesmente, pelo fato de que, além de ser uma formula bem sucedida e estabelecida para banda,
OS ÁLBUNS SÃO BEM DISTINTOS UM DOS OUTRO!
Desde o retorno oficial do grupo com o álbum “Frozen in Time” em 2005, após 6 anos de pausa nas atividades, a intenção primordial dos membros principais da banda é fazer aquilo que fazem de melhor, com uma nova percepção e autoconhecimento apurado. Aliás, os membros principais, os quais me refiro, são especificamente: John Tardy (vocal), Donald Tardy (bateria) e Trevor Peres (guitarra), esses são os alicerces e a essência do Obituary desde os primórdios, mesmo com os ótimos músicos que passaram pela banda em mais de 30 anos de existência.
Esse é um ponto muito interessante aliás, a formação atual do grupo, que ainda conta com o Terry Butler (ex-Massacre, ex-Six Feet Under, Inhuman Condition) no baixo e Kenny Andrews na segunda guitarra, é talvez a formação mais sólida e coesa desde o retorno da banda, com uma entrosamento que fica evidenciado não só nos registros lançados, mas nas apresentações ao vivo.
“Dying of Everything” vem 6 anos após o lançamento do álbum “Obituary” (2017), nove anos após o lançamento de “Inked in Blood” (2014) e fecha até o momento uma verdadeira trinca de respeito com álbuns que fazem total justiça a era de ouro do Death Metal old school e, mais importante, reverenciam a era de ouro do próprio Obituary.
Abrir com a faixa mais insana e agressiva do álbum foi jogada de mestre na construção do tracklist, “Barely Alive” é uma porrada certeira e explosiva sem pausa.
Parando para discutir a produção, é surpreendentemente natural para um disco de Death Metal moderno e não é superproduzido e cheio de artifícios, mas bem sólido. O timbre de guitarra instantaneamente reconhecível do Obituary ruge mais cavernoso que o normal e toma os holofotes neste álbum, soando como “Cause of Death”, vindo de uma realidade alternativa, cortesia do Sr. Peres. A bateria de Donald Tardy, embora presente, soa um pouco silenciosa na mixagem em determinados momentos, conduzida, principalmente, pelos pratos e grooves extremamente cativantes.
E como de costume, John Tardy realmente é o elemento “X” mais uma vez, fica a cargo dele dar a personalidade que o som da banda demanda e o cara brilha durante todo o registro, impressionantemente, se mantendo como dos melhores e mais genuínos vocalistas do gênero.
A sequência composta por “The Wrong Time”, “Without a Conscience” e “War” acena diretamente para o clássico “The End Complete”, a morbidez e a cadência perversa característica da banda começa a dar as caras aqui, tanto nos riffs soturnos, quanto nos grunhidos de dor e desespero. “The Wrong Time” foi o primeiro single disponibilizado e como aperitivo para o que viria a seguir foi certeiro, um suprassumo da sonoridade Obituary.
“-ESCOLHEMOS ‘THE WRONG TIME’ PARA O PRIMEIRO SINGLE, POIS É UMA VERDADEIRA REPRESENTAÇÃO DO SOM, ESTILO E SENSAÇÃO QUE BUSCAMOS NO ESTÚDIO E É UMA ÓTIMA AMOSTRA DO QUE VOCÊ PODE ESPERAR DE ‘DYING OF EVERYTHING.”
O ouvinte pode estranhar a “quase” ausência de solos no decorrer da audição, mas não se preocupe, eles estão aqui bem discretamente, quase como se fizessem parte de um coro de fundo na atmosfera da música, eu diria que eles foram encaixados de maneira bem excêntrica, um tanto diferente dos registros anteriores.
Em “Dying of Everything”, canção de ninar que carrega o nome do registro, o caldo engrossa novamente com John Tardy mostrando toda a potência de seus pulmões em gritos de ódio e agonia, derrubando tudo pelo caminho. Sem dúvida, uma das melhores faixas na discografia, com tranquilidade.
É curioso como, mesmo sendo uma banda conhecida pela sua notória sonoridade mais cadenciada e arrastada, flertando constantemente com a melancolia do Doom Metal, ainda conseguem criar composições tão furiosas e violentas que remetam aos primórdios do grupo.
Como chegamos na faixa título do registro, gostaria de trazer a atenção do caro leitor para belíssima e grandiosa arte que estampa a capa desse álbum devastador.
Essa distinta artwork é assinada pelo artista polonês Mariusz Lewandowski (Frozen Dawn, Doomocracy, Bewitcher, Lorna Shore, Necrogod), conhecido por obras pintadas a óleo, repletas de símbolos e detalhes instigantes que cada espectador tem a oportunidade de interpretar à sua maneira, o que angariou a atenção e aclamação dos headbangers nos últimos anos. Infelizmente, o artista veio a falecer em julho de 2022, deixando um legado único dentro da arte do Metal.
De volta ao que podemos de chamar de “lado B” do álbum, temos em evidencia o foco da banda voltado para os grooves e a cadência mórbida que por vezes torna a audição um tanto cansativa e maçante
“Weaponize The Hate”, “By The Dawn” e “Torn Apart” gastam muito tempo com os mesmos riffs de repetição lenta e sempre segue o mesmo padrão de sequência em um loop eterno.
Entretanto, ainda creio que seja algo muito influenciado pelo estado de espirito do ouvinte, visto que a banda bebe muito de sua própria fonte, mas sem a pretensão de ser um “revival”, como outras bandas do gênero têm feitos nos últimos anos. Em outras palavras, o ouvinte vai encontrar tudo oque ele pode esperar do bom e velho Obituary e como seus maiores pontos fortes estão em composições mais simples e pesadas, é exatamente isso que este álbum faz na maior parte do tempo, e segundo o homem por trás do kit de bateria:
“TEMOS UMA QUÍMICA PERFEITA AGORA. A BANDA ESTÁ PEGANDO FOGO. ACHO QUE TOCAMOS BEM NOSSOS INSTRUMENTOS. TOCAMOS LIMPO NESTE ÁLBUM, O QUE TORNA A VIDA DOS ENGENHEIROS DE SOM MUITO MAIS FÁCIL. FOI MUITO FÁCIL PRODUZIR ESTE ÁLBUM PORQUE ENTREGAMOS A ELE UM PRODUTO PESADO, MAS LIMPO E BEM EXECUTADO.”
Dito tudo isso, ao nos aproximar dos últimos minutos, temos o que talvez seja a faixa mais soturna, impiedosa e mórbida da banda desde “Slowly We Rot” (1989).
Não é exagero meu caros, “Be Warned” é realmente uma canção que transpira Celtic Frost do inicio ao fim. Trevor Peres é disparado o guitarrista mais cavernoso do Death Metal. É surpreendente como o cara trabalha em cima de acordes e power chords tão impactantes e simples ao mesmo tempo.
Tudo nessa faixa é muito soturno e denso, desde os grunhidos de John Tardy até as pesadíssimas linhas de baixo de Terry Butler, que permeiam o riff sabbathico que domina a atmosfera da canção. É uma composição deveras simples, porém altamente intimidadora e finaliza o registro com uma sensação de dever comprido.
Não ironicamente, o Obituary consegue mostrar, que apesar da famigerada alcunha de ser o “AC/DC do Death Metal”, consegue demonstrar que existe uma serie de elementos e minucias que diferem um registro do outro, mesmo trabalhando dentro de uma formula saturada e reconhecer esses elementos é a chave para melhor apreciar aquilo que determinada banda faz com maestria.
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